segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Se eu tivesse dinheiro...


A beleza alheia nunca me incomodou. Sempre fui cheia de amigas lindas (não apenas como seres humanos mas dentro do estereotipado padrão que nos é imposto) e isso para mim nunca foi um problema. Aliás gosto de me considerar uma admiradora da beleza bastante imparcial. Costumo conversar com meu marido sobre como “fulana é muito bonita, mas não tem sex appeal” e “beltrana é charmosa embora não esteja exatamente dentro do padrão”, e assim por diante.  Admiro o que está aí para ser admirado e que faz bem aos olhos, seja uma obra de arte, uma paisagem deslumbrante ou um homem e uma mulher bonita. E claro, tudo isso pode e deveria ser extremamente pessoal e intimo pois o belo para mim não será necessariamente belo para você (pelo menos assim deveria ser).

Muito bem, então hoje, ao passar o dedo pela timeline de um grupo do qual participo, me deparo com uma série de comentários maldosos após o compartilhamento de uma notícia sobre uma modelo X que em poucos meses após a gravidez já havia retornado à sua forma habitual. Uma esmagadora maioria ponderava que “com o dinheiro que ela tem até eu” e uma outra importante parcela afirmava que “o custo para isso era a saúde dela e do bebê e a falta de atenção e cuidados ao mesmo visto que tinha que largar o filho com estranhos”. Fiz uma careta e pensei: por que tanto ódio no coração minha gente?

Ressalvada sim a premissa de que eu sou uma defensora de que nos libertemos de padrões impostos pela mídia e de que a sociedade nos impõe sim uma pressão surreal de padrão quase impossível de ser atendido por todas (leia sobre isso aqui), gostaria de propor uma análise um pouco diferente do tema principalmente no que diz respeito a palavra que mais me emociona e me move ultimamente que é a Sororidade.

Então vamos lá: pelo tom e conteúdo dos comentários, parto da premissa de que nenhuma das mulheres que ali apedrejavam a moça fosse do círculo próximo de amizades dela, o que significa que 1) não tinham a menor capacidade de avaliar como havia sido a recuperação pós parto desta mulher e 2) qual era o esquema de cuidado adotado pela profissional em questão em relação ao filho para julgá-la de forma tão cruel. Estavam absolutamente desconsiderando fatores como genética (sim, pasmem normalmente você se torna uma super modelo milionária quando você já tem uma genética favorável!), hábitos prévios de anos de alimentação reduzida (saudável ou não) e exercícios, esforço, dedicação, disciplina e, principalmente, o fato de que esta pessoa vive de seu corpo e da sua imagem que são o seu instrumento de trabalho e, portanto, era mais do que normal e necessário, dentro do sistema em que vivemos, que ela se focasse em resgatá-lo após o parto com o auxílio das ferramentas que tem à sua disposição. Mas mais do que qualquer outra coisa, percebi ali um ciclo de auto sabotagem claro pois o “se eu tivesse dinheiro e tempo (que não deixa de ser dinheiro como já diria o ditdo)” se torna a desculpa para quase tudo o que estamos deixando de lado e está nos fazendo infeliz.

Eu já escrevi sobre isso aqui sob um outro ângulo mas a lógica embutida por trás desse conceito é a mesma: colocamos obstáculos intransponíveis e desmerecemos o sucesso alheio para justificar o nosso fracasso.

Honestamente acho que ninguém se enquadra no padrão de beleza imposto pela mídia sem fazer muito esforço e ter muita disciplina, com ou sem dinheiro. Então, ainda que os recursos estivessem disponíveis a pergunta que deveria ser feita é: você quer mesmo uma rotina que envolve quase sempre acordar super cedo, seguir uma alimentação muito específica que requer muita disciplina e assim por diante? Será que se isso fosse realmente importante para você, a única coisa que está te impedindo é o dinheiro?

Sim, provavelmente eu seria mais “bonita” do que sou se tivesse mais tempo, mas isso não desmerece o esforço das outras pessoas nesse sentido. Eu prefiro ser feliz no meu corpo marcado pela deliciosa pizza que comi ontem a noite acompanhada de um vinho com o homem mais sexy do mundo: meu marido. Mas provavelmente, ainda que eu tivesse todo o tempo e dinheiro do mundo continuaria morrendo de preguiça de malhar e de abrir mão das minhas guloseimas! E essa é a minha escolha! Não desmerece a escolha alheia em nada! As coisas não precisam ser opostas. Como disse tenho amigas lindas, saradas, algumas triatletas que amam acordar as 5 am (sim você leu direito) para correr, outras comilonas como eu mas que tem uma boa genética e isso não diminui a minha beleza.

Muitas mulheres ainda não perceberam ou pelo menos não aceitaram no profundo de suas almas que a beleza está mesmo dentro de nós. É bonito quem sorri, especialmente com os olhos. Quem gargalha alto então é deslumbrante! É bonito quem acolhe, quem abraça apertado. É bonito ser honesto e ter empatia pelo próximo! E também é bonito aceitar-se! 

Admiro a garra de quem faz um sacrifício pessoal em busca da saúde e do corpo que almeja e obtém o resultado que espera, tanto quanto admiro outros sacrifícios que trazem outros benefícios. Estudar para um concurso ou para um mestrado. Trabalhar para caramba e ainda ser mãe! Liderar um grupo enorme de pessoas e ainda ter tempo de ler um livro bacana e namorar. Enfim, qualquer que seja o sacrifício ou o esforço o importante é que eles atendam às nossas prioridades. Mas não há realmente nenhuma necessidade de desmerecer o esforço ou o mérito de outra mulher!

Você já se perguntou porque o resultado desta ou daquela mulher te incomoda tanto? O que de fato você quer mudar em você? É o seu corpo ou a sua vida? Pense bem, qualquer que seja o objetivo SEMPRE há um caminho para que ele seja atingido e inúmeras pessoas estão aí para provar isso, mas o quanto você realmente está disposta a sacrificar? 

2 comentários:

  1. Falou e disse."a lógica embutida por trás desse conceito é a mesma: colocamos obstáculos intransponíveis e desmerecemos o sucesso alheio para justificar o nosso fracasso." Nada incomoda tanto a gente quanto nosso fracasso pessoal. Porém, admitir isso é sempre mais difícil, infelizmente, do que apontar o dedo pro outro. Lindo texto, bela análise. Beijos!

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