quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

2015...


Gosto muito de uma expressão que diz: "que este ano seja melhor que o passado e pior que o próximo". Ela é bastante otimista e por algum tempo representou bem a minha vida. Tive uma sequencia de anos muito bons! Um melhor que o outro, com lindas realizações, muito trabalho e muita gente boa e linda na minha vida. 

Sou uma otimista por natureza mas em certos aspectos também, por ser muito ansiosa, acabo vivendo demais no futuro, pensando que o amanhã será sempre melhor do que o hoje. 

Este ano então me pus a repensar esse conceito e resolvi viver mais o presente (ou pelo menos tentar!) e entregar algumas coisas nas mãos do acaso. 

Não foi certamente mérito meu esse novo olhar. Na verdade foi uma reflexão quase que forçada pelas mensagens da vida que esse ano vieram para mostrar que o meu controle sobre as coisas é ainda menor do que eu imaginava ou esperava. Desejos não atendidos, frustração atrás de frustração fui me dando conta aos poucos de que todas elas eram causadas pela minha própria cobrança e expectativa. Que olhando para o presente, para mim mesma e ao meu redor, tudo estava bem! Tudo estava claro e mais sereno. Me entreguei a olhar para dentro e para o que sou e não o que tenho e muito menos para o que o mundo ou os outros esperam que eu seja! 

2014 não foi um ano de conquistas mas de introspecção e amadurecimento! 2014 foi um ano principalmente de aprendizado que inicialmente é dolorido mas depois é libertador! 

Viver um dia de cada vez ou talvez, se não for possível por ser muito angustiante, me preocupar apenas com o mês e quem sabe com a semana e assim ir indo até conseguir o foco para este minuto, este respiro, este instante. Este é meu grande objetivo para 2015.  
Com este exercício espero poder concentrar as energias e revigorar o espírito para poder encarar os desafios de hoje e deixar os problemas de amanhã lá, pois quem sabe quando o amanhã chegar as soluções já estejam mais claras e os problemas talvez sejam outros! 

Que este novo ano seja repleto de amadurecimento e reflexão para todos nós e também de boas risadas, de abraços, de amor e beijos na bochecha, mas também de  lágrimas de felicidade e de emoção! 

Que o nosso coração se alargue cada vez mais e que venha 2015! 

Feliz Ano Novo! 


quinta-feira, 30 de julho de 2015

Sobre liderança, inspiração e amizade!

Nunca vou me esquecer do dia em que fiz a entrevista final na Philip Morris Brasil para a vaga de estagio que mudaria os rumos da minha vida. Eu vinha de 4 anos de inadimplência e sucessivas negociações para pagar uma suada faculdade, inúmeros empregos e bicos por aí e muita muita gastrite ao longo do processo. Além de tudo isso e da importância que aquela entrevista tinha para mim, lembro como se fosse hoje a imagem das minhas duas entrevistadoras: duas mulheres lindas e poderosas que representavam tudo o que eu desejava ser um dia e que me fizeram ter certeza de que aquele era o estágio dos meus sonhos! E foi! Aprendi com elas a ser uma profissional que busca a excelência e a ética, que se preocupa com o cliente acima de tudo e a revisar mil vezes um trabalho antes de entregar #ansiedadequasenada. Foi também com elas que desenvolvi meu pensamento sistêmico e olhar estratégico para que eu fosse muito mais do que apenas mais uma advogada no departamento jurídico. Ao longo de nossos anos de convivência nunca entendia e nem acreditava muito quando elas me diziam o quanto me admiravam e aprendiam comigo também! Pensava: “Ah ta! Ahammmmmm!! Até parece que euzinha tenho algo a ensinar para mulheres como elas” 

Foi só quando tornei-me eu mesma líder que compreendi o que queriam dizer! Ao longo da minha não tão longa mas intensa carreira corporativa tive cerca de 20 liderados diretos e indiretos e é incrível como de fato aprendi muito com cada um deles. 


Hoje, a minha “última” liderada (já que abandonei essa vida!) está se formando e eu tenho o prazer de participar desta festa um tanto emocionada, muito orgulhosa e certa de que os caminhos que a aguardam serão brilhantes e repletos de inúmeros aprendizados e experiências entusiasmantes. Semana que vem uma outra amiga e ex-liderada se casa e me sinto extremamente honrada por poder chamá-la de amiga ainda hoje quase 2 anos após termos nos separado profissionalmente e por ter sido convidada a participar desse momento tão especial! 




Esses dois casos de mulheres inspiradoras, competentes e brilhantes que de alguma forma e por alguma razão tem em mim uma fonte de admiração pura e lisonjeadora me fizeram finalmente compreender o significado das palavras anteriormente enigmáticas. Liderar é incrível justamente por isso! A troca é tão grande e vez por outra você se depara com alguém que te faz ter a certeza de que tudo vale a pena! Alguém que te faz brilhar o olhar e que te motiva a dar o seu melhor mesmo quando o ambiente ao seu redor é absolutamente desmotivador. Alguém que precisa da sua força e do seu comprometimento para desenvolver-se e em troca te propicia a certeza de que você está no caminho certo por ter ajudado de alguma maneira a formar profissionais tão maravilhosas!

Bem, no caso das minhas musas, ambas acabaram se tornando eternas amigas e confidentes mesmo depois de termos tomado rumos corporativos diferentes em momentos distintos e, ainda hoje, a admiração continua sendo mutua! 

E isso é só o que eu espero para essas minhas pequenas grandes amigas: que sejam sempre essas pessoas dispostas a aprender, a absorver mas também a posicionar-se a se expor! Que continuem cheias de garra e motivação e do desejo de fazer diferente! Que sejam mais do que líderes para suas lideradas e que estejam dispostas a aprender sempre como eu aprendi e aprendo com elas! Que não percam nunca a capacidade de sonhar e principalmente que continuem na minha vida pois são verdadeiras fontes de inspiração e conforto! 

E ainda tem gente que me pergunta como é que eu AMO trabalhar com gestão de pessoas?!! Tem algo melhor do que ser paga para encontrar e fazer amizades lindas e verdadeiras?











Dedicado à Patricia, Fábia, Aline e Priscila com muito carinho e a todos e todas que me inspiram e se inspiram em mim em uma troca continua de boas vibrações! 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Sobre o ativismo e a empatia




Muito antes de existir Facebook eu já era assídua frequentadora de discussões e como já falei aqui nunca fui de “arregar” e só costumava parar de argumentar quando achava que tinha convencido o interlocutor. Com o tempo descobri que na maior parte das vezes a única coisa da qual a pessoa tinha se convencido era de que me dar razão aparentava ser a saída mais fácil e, por vezes, de que eu era chata para cacete. O amadurecimento me fez aprender também que ninguém se convence com agressividade e tom professoral ou condescendente e que ouvir muitas vezes é o melhor caminho para o diálogo. Minhas discussões começaram então a ser divididas entre: 1) “quero mostrar um ponto diferente para esta pessoa que eu amo/aprecio/admiro”; 2) “acho que não vamos chegar a lugar nenhum então melhor não discutir esse tema pois pode agredir! Vamos falar de coisas que nos unem”; 3) “quero só que esse imbecil saia da minha frente e pare de falar asneira”; e 4) “to cagando, deixa esse bosta falar o que ele quer”. Isso se tornou ainda mais necessário ao me descobrir feminista, estudar cada vez mais o assunto e circular mais e mais nesse meio que é, e deve ser, por natureza combativo. Em uma releitura do “ser feliz ou ter razão” comecei a me perguntar o que eu desejava: brigar com todos os meus amigos e familiares ou mudar o mundo?

Posicionar-se é imprescindível! Ter coerência também, mas o que tenho visto excessivamente nos discursos é uma completa falta de empatia com o ser humano do lado de lá! Sim, do lado de lá temos pessoas com opiniões divergentes muitas vezes difíceis de serem engolidas mas não podemos esquecer que pessoas são mais do que pautas ideológicas e argumentação política! Pessoas tem histórias, dores e sofrimento! Pessoas tem intenções muitas vezes nobres embora possam agir de forma equivocada ou mal informada! Pessoas tem sentimentos e os ataques contínuos apenas nos distanciam e nos isolam em feudos ideológicos que dificilmente trarão os resultados esperados no menor espaço de tempo desejado. E isso vale para todas as pessoas, inclusive machistas, racistas e preconceituosas. Quem sou eu para pegar a minha varinha de feminista e sair atacando machistas quando eu mesma até pouco tempo reproduzia inúmeras atitudes altamente machistas? Quem sou para julgar a pessoa que a vida inteira cresceu imbuída de conceitos racistas e preconceituosos e dizer que elas não merecem viver? Quem sou eu? Pessoas podem ser racistas e homofóbicas e altamente honestas e éticas, assim como ativistas de esquerda que defendem a igualdade e fraternidade aos quatro cantos podem ser machistas e misóginas. Feministas podem ser corruptas e ativistas do Greenpeace podem estar neste momento batendo em seus filhos! Sim, porque ninguém é SÓ uma coisa! Todos somos múltiplos e complexos e rótulos distanciam justamente porque a pessoa não se identifica com o que o limita a algo que não a descreve corretamente. 

O caso Gregório Duvivier e do vídeo infeliz do Porta dos Fundos sobre o universo trans é um bom exemplo disso. Não estou aqui querendo justificar atitudes imbecis reiteradas como as do Danilo Gentili, por exemplo, mas os ataques que li ao Gregório para mim foram um bom exemplo da demonização do ser humano ao invés da crítica ao argumento, ao erro, ao fato em si! Ok, o vídeo é ruim! Ok, ele errou! Mas isso anula tudo de bom que ele tem feito? Isso anula por completo as intenções? Acredito que não! E mais: acredito que esse tipo de ataque apenas isola e afasta quem está bem intencionado e desejando apoiar seja lá qual for a causa!

Uso esse exemplo apenas para ilustrar algo sintomático em inúmeros debates inclusive e, talvez principalmente, por parte dos ativistas. Tenho entrado em muitas páginas feministas e de movimentos negros e LGBTs e vejo muita agressividade dirigida à pessoa e não ao argumento. Vejo também muito despreparo técnico para a resposta fundamentada. Não é porque você é de esquerda e feminista ou negra que pode responder com “porque sim e cala a boca seu macho de merda” a uma ponderação sensata e indagativa! Eu entendo a agressividade e até a endosso mas não creio realmente que rotular as pessoas de “A” ou “B” nos ajude a chegar a lugares muito interessantes. A luta é normal e o sentimento do oprimido contra o opressor é justificado mas na minha luta prefiro acreditar que estender a mão e acolher é muito mais efetivo do que dar o troco na mesma moeda.

Um outro caso que me chamou atenção foi uma discussão num grupo de mães sobre o texto da escritora queafirmou se tornar uma mãe melhor ao fumar maconha. Muito bem, os comentários se dividiram entre: julgar a mulher que fuma maconha como uma irresponsável ou julgar as que a julgavam como hipócritas viciadas em antidepressivos. Gente, sério, a discussão poderia ser tãaaaaaao mais interessante... a troca de experiência então nem se fala! Mas, ao optarmos por julgamentos (normalmente rasos) caímos em falácias e equívocos como o de tachar mulheres com depressão e que fazem uso de remédio de “patricinhas mimadas” e mulheres que apoiam o uso da maconha de “naturebas irresponsáveis”. E o mesmo ocorre quando se fala de qualquer assunto: parto, amamentação, criação, voto, estilo de vida, crenças, futebol e por aí vai!


Somos todos seres falhos e apontar dedos para as pessoas o tempo inteiro além de ser simplista, já que as coloca em caixas que não as definem por inteiro, é extremamente perigoso para a nossa própria coerência. É o famoso cuspir pra cima! Eu já julguei muito e já quebrei muito a cara me vendo na situação exata que anos antes estava julgando! Na busca pelo autoconhecimento e como coach minha missão é aplicar o julgamento zero! Claro que é muito difícil, se não impossível, mas necessário, diria até imprescindível de ser buscado. O julgamento é inerente à nossa condição humana e social mas o esforço de desconstrução e autoavaliação para então exercer a empatia e a compaixão é o passo que todos precisamos dar.

Quem me conhece ou me acompanha há algum tempo pode estar estranhando esse posicionamento já que continuo tendo opiniões fortes e bem definidas, inclusive públicas, mas a discussão aqui é o julgamento e a falta de empatia às pessoas! Eu não tenho e continuarei não tendo qualquer tolerância com argumentos machistas, racistas, preconceituosos em geral, mas tenho tentado sempre exercitar a empatia pela pessoa que os profere e entender o porquê daquele posicionamento antes de gostar ou desgostar de alguém. É o famoso condenar o “pecado” e não o “pecador”. Ressalvadas as exceções, grande parte das pessoas tem uma história de vida singular que explica sua visão de mundo e seu posicionamento e compreende-los certamente é uma chave muito mais efetiva ao diálogo e ao entendimento do que simplesmente atacá-la e rotulá-la. “Nossa, como você consegue ser amiga daquele cara fã do Bolsonaro?” “Afe, não acredito que fulaninha compartilhou um post do Olavo de Carvalho e você ainda a defende”. “Ai agora você fica defendendo comunista??? Vende o seu iphone então!” “Petista, safado e corrupto”. “Playboy fútil”, “Perua deslumbrada” “Homem é tudo isso” “mulher é tudo aquilo” são algumas das afirmativas que tenho ouvido e que geraram esse post.

Já venho falando sobre isso aqui e no meu post mais “popular” o que eu considerava um convite à reflexão interna acabou me gerando uma série de ataques completamente infundados que na época me levaram a refletir também sobre como EU estava enxergando as pessoas “sem noção” da minha timeline.  

Meu convite a todos e todas é então para que possamos debater sim, posicionarmo-nos com certeza, abraçar causas e bandeiras se assim desejarmos, mas para que o façamos com respeito ao ser humano de lá! Que exercitemos empatia pelo mensageiro ainda que repulsa pela mensagem! Sei que não é um exercício nada fácil! Acreditem, eu sou a pessoa menos propensa a esse tipo de prática. Desde que me entendo por gente recebo feedbacks me descrevendo como mandona, intolerante a opiniões divergentes e “alguém que tenta impor a sua opinião nem que para isso tenha que discutir o dia inteiro” (sim isso veio no meu boletim da terceira série!). Mas acredito que quanto mais difícil a prática da empatia e da compaixão mais necessária ela será para mim! Como disse Madre Teresa, “todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão”. Posso assegurar que o caminho é árduo e o exercício é diário, mas a recompensa e a gratificação do genuíno debate, do amor e acolhimento, de trazer para o diálogo pessoas que eu jamais imaginei que concordariam comigo sobre determinados temas é indescritível.

Finalizo então com um grande líder que nos provou o poder do discurso e da luta pacífica ainda que com uma agenda clara e bem posicionada!


Através da violência você pode matar um assassino, mas não pode matar o assassinato. Através da violência você pode matar um mentiroso, mas não pode estabelecer a verdade. Através da violência você pode matar uma pessoa odienta, mas não pode matar o ódio. A escuridão não pode extingüir a escuridão. Só a luz pode. – Martin Luther King 


segunda-feira, 13 de julho de 2015

E viva a vida!



Eu nasci em uma sexta-feira 13 de lua nova! Nada mais propício para o início de um novo ciclo tão importante! Eu nasci canceriana, com ascendente em libra e lua em capricórnio. Nada mais indicativo da minha personalidade do que esse trio de água, ar e terra! Eu nasci sonhadora, gentil e preocupada com todos ao meu redor e cresci independente e decidida! Perdi um pouco da doçura pelo caminho mas não a capacidade de sonhar com um mundo melhor. Eu nasci teimosa e destemida mas aprendo todos os dias das formas mais variadas possíveis a ouvir e aceitar a opinião dos outros e o fato de que algumas poucas vezes eu estou errada! #contemironia 

Eu vivi intensamente todos os meus amores e paixões, fossem eles o meu namorado que virou marido, as minhas amizades às quais dediquei sempre o melhor de mim (que pode ou não ter sido suficiente), minha carreira para a qual entreguei suor, lágrimas, inspiração e anos de trabalho duro! 

Eu vivi 31 anos fazendo planos e organizando coisas: estudos, carreira, viagens, festas de aniversário, jantares e surpresas! Foram 31 anos me preocupando! 31 anos me sentindo responsável, mas também 31 anos amando, abraçando, beijando e cruzando olhares de afeto! Foram 31 anos de lindas amizades, muita parceria e gargalhadas até altas horas! Muita gente, muitos lugares e incríveis sabores. Muitas dores? Sim, também! Mas me fizeram crescer, me tornaram quem eu sou, com defeitos, qualidades e contradições únicas!  

E hoje, ao entrar no 32º ano me vejo em uma vida bem diferente da que imaginava que teria 10 anos atrás! A garota do plano A, B e C jamais imaginou como os planos D, E e F poderiam ser surpreendentemente deliciosos! 

E para os próximos 31 anos eu desejo apenas que eles sejam ricos de experiências engrandecedoras, de propósito e de aprendizado! Desejo ter menos planos e mais surpresas lindas como as que a vida sempre me proporcionou mesmo eu teimando em não confiar! Desejo mais amores e paixões: sejam livros, filmes, amigas, animais, lugares de tirar o fôlego! 

E para celebrar esse dia e a vida, tomo emprestadas as palavras da Martha Medeiros para concluir que hoje, aos 31 anos completos estou mais viva do que nunca! E "já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar".

Gratidão! 


"Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja quem não lê quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar". 
















quarta-feira, 8 de julho de 2015

Coragem, para que te quero?


“Nossa que coragem!” é o que mais ouço sobre o novo rumo que estou dando à minha vida. Alguns com admiração, mas muitos enxergam neste meu desvio de rota algo quase insano (sim, coragem tem sido eufemismo de loucura)! Coragem, pensam, abandonar uma carreira que me proporcionava uma renda fixa atraente e uma suposta estabilidade pela incerteza de empreender. Coragem de trocar o “certo pelo incerto” e arriscar perder um padrão conquistado às custas de muito suor e lágrimas.

Pensando sobre isso no avião para São Paulo os sentimentos me transportaram a quando saí de Curitiba para encarar um desafio profissional e senti exatamente o mesmo tipo de espanto! Olhares que me questionavam por estar “abandonando meu marido” e trocando “um emprego seguro” no qual eu havia acabado de ser promovida por “uma aventura profissional que poderia custar-me o casamento”. Lembrei o quanto me chamaram de “corajosa” por sair do Centro Cívico para uma velha fábrica em Mauá para onde por um bom tempo fui de trem. Lembrei de como a qualquer mínima reclamação ouvia: “Ué, não era isso que você queria? Agora aguenta!”

Cheguei então à fila do táxi de Congonhas, me dirigi à do ônibus, olhei por trás do meu ombro e me vi ali: de salto alto, terninho, fuçando no Blackberry e esperando... e sorri! Sorri ao me dar conta de que tudo que parecia insano tinha me rendido uma trajetória de sucesso. Sorri pois os mesmos que me chamaram de louca meses mais tarde “não acreditavam na sorte que tive” ao ser promovida a head da área jurídica em menos de 1 ano.  Sorri com a certeza de que assim como lá atrás meu esforço, dedicação e confiança resultaram em crescimento e oportunidades, não tenho razões para acreditar que agora seria diferente!

Falo sempre para as coachees quando estão inseguras em seus planos após algum “iluminado” aparecer cheio de argumentos para “trazê-las à realidade e tirá-las do romantismo que não paga contas”, que essa retórica tem mais a ver com as frustrações e medos do mensageiro do que com a capacidade delas de realizarem seus sonhos mas que medo e insegurança também fazem  parte do processo! Comigo não é diferente! Houve e há momentos em que sinto um frio na barriga que me faz passar fisicamente mal. Há outros em que me pergunto se não deveria ter ficado no emprego seguro no qual havia sido recém promovida. Tive e ainda terei momentos difíceis: trens lotados, apertos financeiros, nãos, olhares de reprovação e quem aposte no meu fracasso. Mas prefiro focar no aprendizado, experiência, desafios e reconhecimento! Apegar-me aos que torcem e vibram comigo a cada conquista e reforçam sua confiança em mim quando a minha própria está abalada. Mais do que tudo agarro-me a mim mesma!

O autoconhecimento nos traz uma certeza serena não apenas do que queremos mas das ferramentas que temos à nossa disposição, daquelas que podem nos atrapalhar e também como contorna-las! Não se trata de coragem mas de confiança e planejamento! Não é um tiro no escuro apostar em nós mesmas! Não é um risco acreditar que somos capazes após nos olharmos de verdade e conhecermos e manejarmos nossas habilidades e defeitos a nosso favor!

Ainda não “cheguei lá” para contar uma história de sucesso mas quem já teve que lidar com problemas de gente grande desde os 4 anos, mudou de país 2 vezes contra sua vontade, andou 10km para economizar e comer uma coxinha e nunca sabia se aquele semestre seria o último que poderia pagar, não pode se assustar com qualquer coisa! Posso me estrepar, ter que recomeçar uma, duas, dez vezes, mas serei eu e apenas eu a ditar os rumos da minha vida e do meu sucesso! E para as inseguranças e frustrações dos outros recomendo: beijo na boca (ou no ombro!), brigadeiro, cafuné e muito autoconhecimento!


Post de estreia da minha colaboração com o Empreendedorismo Rosa 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Mulher não nasce para ser mãe!


Então que em algum dos vários grupos de mulheres dos quais faço parte me deparo com um texto sobre a maternidade que tinha algo próximo de 40 mil curtidas e 30 mil compartilhamentos. Resolvi conferir! Meu coração que já estava apertado por conta da votação da maioridade penal em andamento ficou em frangalhos. Sei que esse tema é polêmico pacas e que podem chover comentários dizendo que “só vou entender quando eu for mãe” mas não posso deixar passar a oportunidade de alertar como textos (e pensamentos) como estes são parte importante dos duros grilhões que aprisionam a todas nós mulheres (mães ou não). Algemas que nos colocam em um ciclo enorme de frustração, culpa e depressão. Certamente o texto foi escrito na melhor das emoções e intenções e evidentemente tocou o coração de milhares de mulheres, mas, como diria o poeta: "de boas intenções..."  

Meu primeiro instinto foi uma vontade enorme de dizer: “miga, que raio de ser alienado você era antes de ser mãe?” Sério, quem é que anda por aí tranquila, sem cobranças e sem preocupações, passando horas na frente do guarda roupa e depois mais horas na frente do espelho se maquiando e combinando sombras? Oi? Tem conta para pagar não? Mãe doente, briga com o marido, demissões, trabalho pressionando? Nada? Sem falar que me desculpe mas não precisamos ser mães para não dormir tá! Insônia por aqui bate ponto desde 2001 PELO MENOS! 

Mas enfim, eu poderia estar me apegando às generalizações bobas do texto ou gastando caracteres com tudo que eu achei bizarro (tipo tudo!) mas vou apenas alertar para o que realmente me preocupou e para como duas frases ao final que podem parecer lindas e emocionantes escondem perigos seríssimos.
“Antes de ser mãe eu não tinha um motivo para viver... 💖 .... Agora eu tenho...
A maternidade não te mudou! A maternidade te mostrou como você verdadeiramente é!
A mulher nasce para ser MÃE... A maternidade existe para revelar a sua essência" 



Acreditar que um filho é a nossa razão de viver anula por completo o ser humano MULHER que está ali e também tem necessidades e desejos e ainda faz com que tamanhas expectativas sejam colocadas sobre um pequeno ser que quase nunca irá corresponde-las à altura. Esse tipo de crença provavelmente seja a razão de 9 de 10 mães apelarem para o discurso: “depois de tudo que eu fiz por você...”

E o que tudo isso gera? Culpa! Culpa! Culpa! Culpa nas mães que não se sentem tão plenas quanto esse tipo de texto prega! Culpa naquelas que, por acharem que assim deveriam sentir-se e para isso deveriam dedicar-se, abandonam suas carreiras e tudo que lhes dê prazer e não seja focado na maternidade! Culpa nas crianças que não atendem as expectativas e se tornam adultos frustrados! Culpa nas mulheres que não conseguem ser mães e acreditam que não estão cumprindo seu papel no mundo. Não preciso nem dizer quem é que está andando por aí assobiando com a mão no bolso bem feliz e livre de culpa né?! 



Mas porque isso é tão importante? Porque a culpa e a frustração são os sentimentos que mais assolam as mulheres nos dias de hoje! Minhas clientes e as mulheres com quem converso estão sempre se sentindo “menos”. Estão sempre culpadas por algo! Inúmeras delas são corroídas pela crença de não estarem atendendo o que se espera delas nesse “papel tão nobre” e passam a vida tentando se justificar com discursos chatissimos #nãosoumenasmain em grupos de mulheres como esse em que este texto foi postado!

E como a minha vida anda cheia de sincronicidades interessantes, não pode ser por acaso eu me deparar com essa reflexão toda logo enquanto me preparo para co-facilitar um programa de coaching e autoconhecimento para mães com o objetivo justamente de aliviar a culpa e resgatar a individualidade!

Mães, mulheres, irmãs vocês são SERES DOTADOS DE INDIVUDALIDADE! Ter filhos é um papel lindo e nobre e certamente é maravilhoso mas não é o único e não é a razão da sua vida e nem deveria ser! A razão da sua vida está ligada a você e ao seu propósito! Ser mãe pode sim ser o SEU propósito mas pode não ser e está tudo bem! Em uma sociedade que adora nos relegar ao status de mera reprodutoras precisamos defender com unhas e dentes a maternidade eletiva e não a imposta

Você pode e deve ser feliz com ousem filhos e ir em busca da realização dos seus sonhos e desejos independente do que imposições sociais nos coloquem! Você não precisa ser perfeita e você não precisa ser a Mulher Maravilha!

Eu quero muito ser mãe e isso não é segredo para ninguém mas eu NÃO NASCI para ser MÃE e eu tenho INÚMEROS motivos para viver! Eu quero ser mãe para que eu some a el@ e el@ a mim! Eu quero ser mãe para repassar valores que acredito serem importantes! Eu quero ser mãe por "n" razões e nenhuma delas é para me sentir plena ou mais completa! E tudo isso que escrevo aqui reflete o fato de eu também já ter sido vítima dessa cobrança, desse julgamento, dessa imposição! 

Afirmar que ser mãe é o maior e melhor papel que uma mulher irá desempenhar e o único que irá “revelar sua essência” coloca aonde mulheres como Madre Teresa? E nem precisa ir tão longe... tantas outras mulheres maravilhosas e que optaram ou não puderam ter filhos deveriam então entregarem-se ao desconsolo e sentirem-se inúteis para o resto da vida como muitos sugerem? Estaria a autora sugerindo o meu suicídio? #contémironia

Textos como esse me dão ainda mais vontade de trabalhar em prol do empoderamento feminino e do autoconhecimento de mulheres para que resgatem sua essência, para que sejam mães e mulheres felizes e realizadas e não olhem para seus filhos com a cobrança imensa que leva tantos e tantas aos consultórios psiquiátricos e de psicólogos! 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Questões de Gênero e o medo

H
Sempre me incomodei quando alguém usava como argumento para não querer ter um@ filh@ gay o fato de que est@ teria que sofrer muito em uma sociedade como a nossa”. “Mas não seria mais um motivo para fazermos – ou tentarmos fazer - do mundo um lugar melhor ao invés de torcermos para que noss@ filh@ não faça parte de um grupo constantemente humilhado e assediado em todos os sentidos?" Torceríamos então para sempre termos somente filhos homens e heteros já que são os que menos sofrem em nosso mundo cis???” Assim se iniciaram muitos debates e muitas conversas que normalmente me deixavam apenas com raiva, pois no fundo esse argumento era apenas algo que a pessoa gostava de dizer para si mesma para não ter que assumir seus próprios preconceitos.

Pois bem, hoje, ao acompanhar a votação do Plano Municipal de Educação (PME) na Câmara de Vereadores de Curitiba, pela primeira vez senti esse medo! Olhando ao meu redor só o que eu via eram rostos raivosos! Ouvia gritos quase que de guerra usando o nome de Deus para justificar a intolerância, o machismo, o racismo e a homofobia. Como se um filme estivesse passando na minha frente em câmera lenta no qual me vi completamente espectadora me senti pela primeira vez realmente assustada! Olhei para o alto e vi parte dos manifestantes LGBTs com balões coloridos espremidos por um número pelo menos 10 vezes maior de conservadores com faixas que diziam coisas como: “Curitiba sem gênero e sem diversidade!” “Homem é homem, menino é menino e macaco é macaco”. Olhei no olho de um menino em especial no meio daquele tumulto e não pude evitar de sentir medo!

Ao ouvir os vereadores que deram voz ao que viria a ser o posicionamento da Câmara mais tarde meu coração se enchia de tristeza e desconsolo (as expressões gênero e diversidade foram excluídas do PME assim como aconteceu no âmbito nacional). Não vou entrar no mérito das inconstitucionalidades dessas medidas conservadoras que afrontam diretamente o estado laico (para quem tiver interesse segue a nota oficial da Presidência da OAB sobre o tema) pois este não é o foro e há muitos por aí explorando muito melhor do que eu a parte técnica do tema, mas questiono-me hoje após esse dia tão difícil (ainda está sendo votado na Assembleia Legislativa o Plano Estadual enquanto escrevo) quais os rumos que o nosso país e a nossa sociedade estão tomando. Não tenho receio em dizer que já estamos em um estado fundamentalista! Ao finalizarem suas falas em plenário os vereadores “cristãos” (e sim, cabem aqui MUITAS aspas) foram aplaudidos e saudados com gritos de “aleluia” “glória a Deus” e “Jesus é o nosso rei”. Em discursos efusivos foram defendidas a discriminação de gênero, a homofobia e a manutenção de um sistema que exclui, que agride e que mata!

Olhava ao meu redor contemplativa tentando imaginar o que Jesus pensaria daquilo. O que o homem que veio pregar o amor e a tolerância, que andava com putas e excluídos pensaria daquelas atitudes inflamadas que, em algum momento, também o consideraram subversivo e o crucificaram? O que ele sentiria ao saber que em seu nome crianças são mortas, homens e mulheres são espancados e estuprados de forma “corretiva” e tantos outros levados a tirarem suas próprias vidas por não conseguirem conviver com tanta intolerância?

Fitava os olhares cheios de ódio, cheios de raiva e só conseguia pensar no meu futuro filho ou filha. No mundo que os espera... e se for menina? E se for gay ou lésbica? Ou trans? E se for negro(a)? O que será desses filhos que ainda não tenho? O que será de mim? Em que momento esse estado nada laico conseguirá silenciar a minha voz de mulher subversiva que deveria estar em casa cumprindo o seu papel “bíblico”?

E foi neste momento que me lembrei d@s muit@s que lutaram e lutam - bem mais do que eu -por um mundo justo e igualitário. Lembrei-me de tod@s que sofreram e sofrem apenas para terem minimamente assegurado seu direito a existir. Lembrei-me, que eu não tenho outra opção a não ser continuar lutando e acreditando, afinal, como disse Sally Kempton: “Tornei-me feminista como uma alternativa a ter que me tornar uma masoquista”

Hoje serviu, dentre outras coisas para confirmar que não mais vivemos em um estado laico real. Hoje me mostrou que é cada vez mais essencial mostrarmos a noss@s amig@s a importância de fazer-se presente e de posicionar-se ao lado do que é justo e humano! Se nós não estamos articulados eles estão. Hoje serviu principalmente para agradecer a tant@s que continuam nessa luta diária que, acreditem, não é fácil!

Meu obrigada especial vai à CEVIGE e as demais comissões da OAB que estão incansáveis nessas últimas semanas em busca de um mundo com menos ódio! Vai às pessoas que me fazem acreditar que é possível e que me ensinam tanto diariamente sobre o respeito e a tolerância! E o pedido de desculpas vai aos que estão por vir! Por não termos ainda conseguido preparar uma sociedade na qual os seres (não apenas humanos) são respeitados e valorizados na sua singularidade e na sua beleza única e não colocados em situação de humilhação constante e de sofrimento continuo em nome de um Deus que certamente está sendo mal interpretado! Por estarmos ainda em uma sociedade em que o verdadeiro deus é o poder e o dinheiro que pode comprá-lo e a religião é a arma usada para conquista-lo!

O medo bateu mas a coragem irá prevalecer! Afinal de contas não temos opção...



quinta-feira, 11 de junho de 2015

Sobre cotas para mulheres, a capa da Exame e o mimimi

Hoje foi um daqueles dias de atrasos acumulados em que a gente se sente meio médico de convênio que marca com você às 16:30 e te atende as 18:00 porque todos os atendimentos anteriores atrasaram “5 minutinhos”. Mas eu precisava comprar uma lata de leite em pó a ser doado para a iniciativa social linda de uma amiga empreendedora (Mutativa!). Então, entrei apressada nas Lojas Americanas após um atendimento, buscando o setor onde eu esperava encontrar a tal lata de leite. No caminho do caixa, como todas devem saber há inúmeras tentações “chocoláticas” e também revistas que normalmente eu costumo ignorar (a segunda com mais sucesso do que a primeira).

Foi então que bati o olho na Exame: “As mulheres precisam de cotas?” Tchan tchan tchan.... Em letras menores a chamada dizia: “Empresárias e altas executivas defendem cotas para mulheres na cúpula das empresas brasileiras. A meta é nobre, mas fica a pergunta – será que esse é o melhor caminho para atingi-la?” Ai ai ai... “será que arrisco?” dialoguei com a minha versão menos masoquista que tem conseguido com certo sucesso não ler artigos de blogueiros da Veja apenas para saciar uma curiosidade mórbida quanto à argumentação tosca e distorcida da vez ou posts de amigos nonsense que só me fazem passar raiva. “Ahhh vou comprar! Afinal de contas nesse caso trata-se de material de estudo para o meu trabalho...”

Deveria ter ouvido o meu primeiro instinto... as usual...

Já no primeiro parágrafo me deparo com a seguinte frase: “mas muitas (das executivas a favor das cotas) se sentem numa posição desconfortável por defender uma medida discriminatória como são as cotas”. Após aquele momento “oh my God” respiro fundo e continuo a leitura para me deparar com uma citação da presidente da TAM que afirma: “a imposição de cotas deve ser utilizada com muita cautela para que não se criem outras distorções como colocar pessoas menos qualificadas para o exercício de uma função”.

Este era apenas o prenúncio de uma tragédia anunciada lá na fila do caixa da americanas.

A matéria continua de forma desastrosa e tendenciosa (para não dizer de má-fé) a fazer uma construção insidiosa de argumentos machistas disfarçados mal e porcamente de neutros para concluir que “no mínimo o tema deve ser tratado com cuidado”. Para fazer isso a Exame: distorce números, lança mão de e reforça estereótipos, demonstra um conhecimento nulo sobre questões de gênero, passando por uma subseção da matéria intitulada “sem mimimi”. Não bastasse isso tudo ela simplesmente tira do contexto frases da minha “personal musa” e diva Sheryl Sandberg fazendo crer ao pobre leitor desavisado que ela coloca a culpa da desigualdade no mercado de trabalho nas mulheres em seu livro “Faça Acontecer” e isso minhas amigas e meus amigos para mim foi imperdoável!

E é por isso que após terminar (sim eu cheguei até o fim com muito nó no estomago) de ler essa matéria patética eu resolvi ligar o meu computador à meia noite e quarenta para detalhar as falácias da matéria da Exame desta semana. Não é minha pretensão apresentar todos os dados e números pois para isso o Sr. Google está aí. Trago aqui algumas fontes que podem ser consultadas só para começar a brincar, mas a ideia mesmo é desconstruir e problematizar raciocínios falaciosos e sim muito muito machistas.

De antemão peço desculpas por eventuais erros de digitação pelo adiantar da hora. Não peço desculpas porém pelo tom pois estou de verdade farta desse tipo de matéria, desse tipo de raciocínio e dessa mídia completamente misógina e desrespeitosa com todas nós. 

Falácia número 1: “As cotas são uma medida discriminatória”


Temos aqui um caso clássico de falsa simetria, ou seja: quando uma pessoa compara duas coisas muito diferentes, envolvidas numa relação de poder completamente desequilibrada, e as julga semelhantes. A falsa simetria é quando, querendo tratar tudo com "igualdade", nós fingimos que a desigualdade de poder não existe.

Cotas sempre existiram, elas apenas vinham beneficiando apenas homens! 

Em que planeta um homem vai ser discriminado por ser homem? Em que planeta ter cotas para mulheres fará com que a coletividade “homens” que domina absolutamente o espaço público será preterida e marginalizada gerando uma “distorção” no mercado de trabalho?

Esses argumentos são o equivalente aos dos apoiadores do dia do orgulho hétero e das camisetas “100% branco”.

Bem, se você acredita nesses argumentos a dica é sair correndo deste blog pois você irá se irritar muito com ele. A outra dica seria estudar um pouquinho de história e sociologia se der tempo que vai sempre muito bem e evita constrangimentos. 

Falácia número 2: “As mulheres são menos preparadas e podem levar as empresas à falência se estas forem obrigadas a terem cotas nos Conselhos de Administração”


Deixando o fatalismo de lado, os números demonstram exatamente o contrário mas ainda que se queira usar o argumento de que esse estudo não focou em mulheres “cotistas”,  os dados da Noruega, pioneira na adoção de cotas para mulheres nos Conselhos de Administração nos dizem que: “no mínimo, há consenso que as coisas continuam mais ou menos como estavam antes das cotas, como concluiu um estudo da Confederação de Empresas Norueguesas (NHO na sigla em norueguês)”.

Então pode ficar tranquilinho que as suas ações na Bolsa não irão despencar caso alguma medida desse tipo passe no Brasil!!!

Falácia número 3: “O relógio biológico”


Aqui começa o festival de pérolas!

“Muitas mulheres não conseguem conciliar a vida familiar e a carreira” diz Fernando Mantovani.

Porque, já os homens né... Não? Eles também não conseguem? Opa! Pera! Eles ao menos tentam?

Pois é... por que será que as mulheres não “conseguem” conciliar? Será porque elas dedicam 26 horas semanais às tarefas domesticas enquanto os homens apenas 10? Será por que elas ouvem o tempo inteiro da sociedade que “os filhos e a família tem que vir em primeiro lugar” e normalmente passam seu horário de expediente afundadas na culpa pelas “péssimas mães” que são e suas horas em casa preocupadas com o que está sendo decidido no Happy Hour com o chefe ao qual não puderam comparecer? Ou será talvez porque mulheres altamente motivadas são vistas por seus empregadores como tão dedicadas ao trabalho que provavelmente sejam más mães e isso resulta em aumentos salariais menores e em menos promoções? Ou, ainda, por frases justamente como as reproduzidas na matéria em que mulheres que tiveram sucesso profissional reconhecem a “sorte que tiveram por terem encontrado um parceiro compreensivo”? Sim, porque a Exame chama de “alternativa” a participação masculina nas tarefas domésticas porque né... todos sabemos de quem é a obrigação!

Mas vamos além... pode ser talvez que essas mulheres “falhem” nessa conciliação porque ninguém te diz: exija que seu marido divida as tarefas! Ninguém diz para o seu marido largar o emprego (ainda que ele ganhe bem menos do que você) e ficar em casa para apoiar a sua grande oportunidade de promoção. Ninguém te dá essa opção e quando uma mulher ou um casal faz essa opção as críticas vêm igual um míssil de tudo quanto é lado. Como é vista uma mãe que abandona a carreira pelos filhos? E o contrário? Como é vista uma mulher que opta por não ter filhos para se dedicar à carreira de seu sonho? Isso é escolha? Isso é “não conseguir”?

Falácia número 4: “O mimimi”  


Preciso confessar que quase gorfei ao ler o subtítulo “sem mimimi” no mesmo dia em que uma farmacêutica lança uma campanha bizarra tratando a cólica menstrual como frescura e "mimimi" em um contexto em que mais de 7 milhões de brasileiras sofrem com fortes cólicas menstrual, declínio na qualidade de vida, com destruições de sonhos, adiamento de planos e tarefas e não conseguem um diagnóstico em menos de 10 anos de uma doença chamada endometriose justamente por essa banalização da dor alheia... ok ok esse é assunto para outro post. Enfim, achando que o subtítulo era o pior que poderia haver nesta matéria e que dali para frente não tinha como piorar me deparo com a seguinte colocação: “Inevitavelmente, discussões que envolvem desigualdade de gênero acabam flertando com certa vitimização das mulheres, diante de uma suposta conspiração masculina. Essa ideia tem sido rechaçada por executivas que cobram das próprias mulheres uma postura mais agressiva (...)” O bla bla bla continua para concluir brilhantemente que a musa Sheryl Sandberg acredita que o mundo é o que é porque “os homens aproveitam melhor e mais rapidamente as oportunidades do que as mulheres às quais falta ambição”.


E neste momento ficou claro para mim que o que, até então, eu estava considerando uma matéria tendenciosa e desinformada era na verdade uma tentativa de má-fé de deslegitimar ações afirmativas de inclusão com o objetivo de perpetuar privilégios. Se esta criatura que escreveu a matéria tivesse LIDO o livro da Sheryl ou ao menos acompanhasse a musa nas mídias sociais, certamente saberia que essas frases foram tiradas completamente do contexto.

Ela apresenta ao longo do livro inúmeros estudos que demonstram como as construções sociais, a educação e a estrutura social contribuem para que a mulher tenha sim menos ambição mas porque foi praticamente obrigada a isso. Ela constrói todo um raciocínio da importância da igualdade na divisão de tarefas como uma das formas mais importantes de se alterar uma realidade que na maior parte das vezes praticamente expulsa os talentos femininos das empresas. Ela constrói também importantes métodos de empoderamento feminino mas certamente, uma coisa que ela não faz é culpar as mulheres pela atual situação vexatória de desigualdade de gênero no topo da pirâmide política e corporativa!!!

Falar em vitimização é um recurso comum dos que não querem perder seus privilégios, mas "suposta" conspiração masculina??? 

Seriam então delirantes os números das pesquisas de Stanford e Yale (este último citado pela própria matéria) que dão conta de que em pé de igualdade de currículos a maioria dos recrutadores seleciona homens e lhes apresenta propostas de salários bem maiores do que às mulheres? Seriam delírios da nossa TPM (pq né...) quando somos constantemente interrompidas em reuniões, temos nossas ideias roubadas e chamadas de mandonas e agressivas quando nos posicionamos? Alguém avise a Exame que a Sheryl Sandberg anda delirando também pois ao criar a campanha "Ban Bossy" é justamente para esta "suposta" conspiração que ela estava chamando a atenção. 


Falo isso com muita tranquilidade de quem teve uma carreira de destaque, incluindo um aumento salarial de mais de 500% em 4 anos e mesmo sendo mulher chegou ao corpo diretivo de uma multinacional do segmento automotivo sabidamente um ambiente altamente masculino e machista. E sim, eu consegui! Mas apenas porque trabalhei o dobro, quando não o triplo que meus colegas e mesmo assim tive que brigar, que lutar contra preconceitos e muitas vezes fui sim preterida por ser mulher, especialmente quando comecei a ser vista como "potencial futura mamãe". 

Falácia número 5: “Não funcionou lá vai funcionar aqui?”


Para finalizar a matéria em grande estilo e de forma coerente com a distorção de números apresentada até então, a Exame negrita em destaque e Caixa Alta NA NORUEGA, AS COTAS NÃO CONSEGUIRAM ALÇAR MAIS MULHERES À PRESIDÊNCIA ignorando completamente no desenvolvimento do texto que o número de mulheres presentes nos conselhos aumentou de 15% para 36% após a adoção das cotas, apesar da resistência à medida (sim! noruegueses também são machistas!), apesar dos alarmes fatalistas não terem se confirmado e da Noruega ter superado muito bem obrigada a crise financeira que abalou a Europa e o mundo recentemente!

Considerações finais sobre privilégios


Os argumentos contrários às cotas para aumentar a participação de mulheres em posições de poder (seja na politica, seja em Conselhos, seja no raio que o parta!) são muito parecidos às críticas às cotas raciais, de renda, e também, à abolição da escravidão e do voto feminino há pouco menos de 100 anos e todos sustentados na mesma base e na mesma lógica: a manutenção de privilégios!

Não acredita? Acha que estou de mimimi?

Pois peguemos esses dois últimos exemplos: a abolição da escravatura e o movimento anti-sufragista.

Aulas de história ficam por conta de vocês, mas para quem não sabe havia inclusive dentro do próprio movimento abolicionista uma parcela que defendia que “os negros deveriam conquistar a liberdade por si sós e não através de leis” ohhhhh wait... né?!

Dar uma passada pelas charges que ironizavam o voto feminino pode ser bastante instrutivo também...



“ahhhhhhh mas muitas mulheres também são contra as cotas!”

Pois muitas mulheres também eram contra o votofeminino:

As líderes anti-sufragistas norte-americanas pertenciam homogeneamente à classe alta – uma espécie de aristocracia urbana, e tinham acesso fácil ao mundo da governação por intermédio de laços familiares e de casamento, o que significa dizer que eram filhas, irmãs ou esposas de homens altamente colocados no mundo da finança, da indústria e da política. O facto de pertencerem à classe social dominante da América dos fins do século XIX é um elemento chave para se compreender a sua oposição em relação ao movimento de emancipação das mulheres. Em certo sentido, poderia dizer-se que para elas, especificamente, a emancipação não tinha grande significado, pois a sua posição era já influente e privilegiada e poderiam imaginar, com boas razões, que uma mais extensa democratização da sociedade só iria contribuir para uma diminuição dos seus privilégios de classe”.

Alguma semelhança?

A questão é que a conquista de direitos para uns necessariamente passa pela perda de privilégio de outros! É talvez a maliciosidade e a forma escorregadia com a qual essa matéria infeliz se disfarça de “preocupada” e a favor da igualdade que me incomoda. Mais honroso seria se fizessem logo uma charge no estilo das aqui linkadas.

Há quem diga que a conquista de direitos é um processo inerente ao avanço das democracias, e que, portanto, chegaríamos a uma legislação igualitária independente de lutas e de políticas públicas. Mais uma vez a história parece discordar diametralmente. Fôssemos depender do avanço democrático (e não de lutas) ainda teríamos a legítima defesa da honra (do homem), a mulher como incapaz civilmente, o estupro marital seria legal já que "meros caprichos - mimimi" não justificavam tolher do homem seu direito à propriedade do corpo de sua mulher. 


Me encaminhando à cama já às 02:25 prefiro ficar com a visão da Sheryl não distorcida:

“Um mundo de fato igualitário seria aquele em que as mulheres comandassem metade dos países e das empresas e os homens dirigissem metade dos lares.” (Sheryl Sandberg) 

E concluo com a frase de um dos melhores políticos e filósofos que a dramaturgia já viu: Tyron Lannister: 

"É fácil confundir "o que é "com "o que deveria ser", especialmente quando 'o que é' tem funcionado em seu favor."




Outas fontes: