quarta-feira, 29 de abril de 2015

#SomosTodosProfessores

Eu nem sei direito por onde começar... Ás vésperas da primeira manifestação deste ano escrevi sobre minhas razões para não fazer parte dela e sobre o como sentia que a revolta dos cidadãos de bem era seletiva. Esse post gerou muita polêmica e fui muito aplaudida e também muito criticada.

Desde ontem ao olhar as imagens da reação do Governador e seu Secretário de Segurança Pública contra os professores que protestam por uma manobra do governo bastante escusa e duvidosa meu coração está apertado. Fico olhando a timeline dos outrora indignados que nos convocavam para as ruas e estão repletas de memes motivacionais e assuntos aleatórios. Como podem não se solidarizarem com essa causa e com os desmandos deste governador simplesmente por ele ser do PSDB? Como podem ter orgulho de terem ido às ruas com camisa amarela e bandeira na mão com a escolta da polícia enquanto esta mesma polícia massacra com bombas, jatos de água e balas de borrachas professores do Estado e demais manifestantes? Como podem fingir que nada está acontecendo? O quão perversa pode ser a ideologia partidária ou o ódio contra um partido?

Neste momento não consigo ponderar. Não consigo olhar os dois lados. Não consigo sentir senão raiva e desgosto somadas à uma enorme decepção pela sociedade que nos tornamos. Penso apenas na mãe de uma das minhas melhores amigas que está lá no meio lutando pelos direitos de toda uma classe ESSENCIAL à nossa sociedade.

A luta não é mais dos professores (para mim nunca foi). A luta é pela democracia! Pelo direito de ir e vir sem ser trucidado pela máquina do estado. Sem ser atacado de forma truculenta pelo aparato policial que está praticamente inteiramente destacado para isso ao invés de estar cumprindo a sua função de proteger os cidadãos paranaenses. Faço minhas as palavras dos outrora indignados para dizer que “quem não por nós é contra nós”. Sim! Se você não está fazendo nada, se você está aceitando essa situação você está do lado do opressor! Se você acha que postar selfie com camiseta do Brasil ao lado de um policial é exercer cidadania acredite: você está fazendo isso errado! 

O texto da minha amiga e colunista aqui da Self Andressa Barichello expressa de maneira contundente e tomo a liberdade de usar as palavras delas neste momento em que meus olhos se enchem de lágrimas e meu coração palpita mais forte indignado.  

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Possíveis amores, amores possíveis - "Outras Palavras"

Relacionar-se com o outro não é fácil para ninguém. Todo mundo sabe porque todo mundo está sujeito - até o ermitão que um dia deixou a cidade e foi viver numa ilha. Pais, filhos, irmãos, amigos, companheiros, colegas de trabalho. Todas essas figurinhas com quem compartilhamos a nossa existência desejam, assim como a gente. E porque desejam é natural que as pessoas com quem optamos por estreitar vínculos passem, cedo ou tarde, a nos dirigir demandas de amor. Relacionar-se com o outro não é fácil para ninguém, pois, como já dizia Fernando Pessoa: "O mesmo amor que quer-nos, oprime-nos".

Especialmente no quesito romântico-sexual essas demandas de amor parecem ser ainda mais delicadas, já que entra em cena, para muitos e muitas, a questão das expectativas e necessidades que o outro deve supostamente preencher e a questão exclusividade. Para nós, mulheres, a fantasia do amor romântico, do amor idealizado, parece ter um peso ainda maior já que, desde cedo, somos incentivadas a investir nossa energia libidinal em um único objeto, enquanto os homens são incentivados a buscar uma maior variedade de experiências, também amorosas e sexuais. 


O tal príncipe encantado não existe (cada dia descobrimos isso mais cedo), mas algumas de nós quando desejam uma vida a dois, felizmente conseguem  encontrar parceiros que topem o propósito nos termos do "eu e você, você e eu". Me refiro a parceiros que não apenas se propõe a formar um casal, mas que conseguem viver com a companheira do dia-a-dia as suas taras mais malucas, num vínculo de fidelidade afetiva mas também sexual. Afinal, sabemos: há, ainda, muitos homens cindidos, os quais presos a um modo de ser-estar do tempo da carochinha, ainda precisam buscar satisfação sexual fora do relacionamento que tem com a mãe-dos-seus-filhos. Quem não conhece um carinha muito bem casado que dá os seus pulinhos que atire a primeira pedra. 


Algumas de nós, é verdade, redescobrem maneiras de viver uma relação conjugal na qual a presença de mais alguém não é capaz de desestabilizar um casal. Mas, sabemos: Para muitas, uma traição sexual é mesmo imperdoável.


Com relação as que não tem um companheiro, é verdade que muitas de nós desenvolveram com o passar do tempo e das relações, um estar-arguto que as permite colocar-nos numa relação na posição da mulher que deseja prazer, riso, momento - da mulher que deseja sexo e não um reconhecimento de suas qualidades humanas e pessoais por meio do sexo. Mas há, ainda, aquelas de nós que acreditam piamente que, sendo "boas de cama" conquistarão um companheiro para toda a vida, frustrando-se em cirandas amorosas com sujeitos comprometidos e construindo uma vivência sexual na qual o erotismo quer funcionar como moeda de troca com o outro, distante de sua nuance mais prazerosa que mais tem a ver com um desvelamento do próprio corpo e da própria sexualidade. Há homens que simplesmente não querem conhecer nosso potencial humano e conquistas pessoais, profissionais, etc. Supor que sexo é uma chavinha para criar uma espécie de dependência que com o passar do tempo vira interesse é, na maioria das vezes, arriscado. É verdade que muitas relações partem de transas descompromissadas, mas tesão que evolui para amor e paixão é obra do acaso e não consequência lógica de um sexo fantástico. 


Em alguns cenários, sem perceber, dirigimos nossa demanda de amor ao outro esquecendo que, antes de endereçá-la, precisamos ser honestos: Será que o outro, por mais que eu o queira bem, pode me dar o que eu preciso? É lícito apostar, só não é lícito fechar os olhos e insistir, sádica e nascisicamente, para que a outra pessoa corresponda a uma aposta - porque apostas pressupõe ausência de garantias.


Garantias mesmo, só nós mesmos podemos oferecer pra gente mesmo e olhe lá. O que eu quero? O que o outro quer de mim? Não são perguntas fáceis, mas se dermos espaços para nós mesmos e para o outro, sem preconceitos e tantas expectativas, talvez as respostas surjam naturalmente. 


Por que meu companheiro me trai? Por que os caras com quem eu saio não querem nada comigo além de sexo?


Será que podemos mesmo responder a essas perguntas, como houvessem culpados? Ou a resposta está com o outro, com as faltas do outro, com as necessidades do outro, e a nós cabe tão somente uma abertura a ouvi-lo? Quantas e quantas vezes, após o término de uma relação percebemos de modo claro que certos modos de funcionamento e certos sinais já haviam sido postos em cena e não demos atenção a eles, preocupadas em satisfazer as nossas próprias expectativas?


O velho mandamento do "baixe as expectativas" parece ser valioso. Não porque não devamos esperar nada das pessoas, mas porque somente quando baixamos as nossas expectativas é que podemos chegar mais perto de entender o que o outro pode nos oferecer, ao mesmo tempo que compreender o que nós podemos [deman]dar.


Não digo com isso, é claro, que possamos sempre prever comportamentos ou que devamos ligar a nossa sirene, mantendo as antenas ligadas o tempo inteiro. Não se trata de ser inquisitiva, mas curiosa. Trata-se de dar espaço ao outro. O esforço de tentarmos deixar um pouquinho de lado o nosso desejo para tentar compreender o do outro é sem dúvida algo que pode minorar frustrações e rompimentos dramáticos.


Falemos sobre o que nos inquieta - e aquieta. Enquanto tentarmos nos enganar sob a expectativa de que todo homem que nos interessa e nos deseja quer fazer conosco o investimento de uma relação de parceria franca (se for essa parceria o que desejamos), o maior revés [ou tempestade] na vida de muitas solteiras parece que continuará a ser o velho descobrir-se "a outra" ou apenas "uma das" - amor de porto, sem cais, nada além[mar]. Enquanto for assim, das maiores tempestades na vida das namoradas e esposas será descobrir-se traída. Estaremos  sujeitas a sofrer por razões parecidas, ainda que a partir de posições diferentes no mapa [das relações]. O barco é um só. Abandonar o navio, encarar a tripulação, navegar sem bússola? Para as namoradas e esposas ao menos fica a impressão de ser aquela de quem o comandante [?] não quer prescindir-de, aquela que ele escolheria salvar primeiro em caso de naufrágio, aquela com quem dividir o bote. Resta seguir viagem ou recolher as âncoras, desembarcar. Para as solteiras em alto mar, passado o choque de ver-se à deriva, fica a impressão de ter navegado numa canoa furada apenas extraoficialmente - história de marinheiro só. E melhor: tendo aprendido a nadar e a salvar-se sozinha, sem medo de morrer na praia. 



Que possamos cada vez mais trazer para nós mesmas o protagonismo de nossas relações afetivas e sexuais. Porque sermos protagonistas é dar espaço para que o outro fale de si e não apenas o que queremos ouvir - e quem fala de si também protagoniza ao invés de encenar. Com mais diálogo e reflexão, com menos receios. Conversa franca e cartas na mesa são conquistas que levam tempo. Enquanto trabalhamos nelas, que possamos nos dispor a escutar o que fica dito não apenas verbalmente. Que não façamos sexo como meio de atirar no que vimos desejando acertar no que não vimos - alguns dos homens a quem chamamos de cafajestes podem apenas ser homens cuja dinâmica e desejo não nos dispusemos a compreender ou a aceitar antes de investirmos. Quando depositamos em alguém a obrigação de reconhecer o nosso valor, talvez ele nunca seja reconhecido de fato. Quando alguém deposita na gente valores que não são os nossos, perdemos a chance de mostrar os que verdadeiramente temos.



Que o outro e a gente deixem de ser um mar de tormentas para se tornar um mar de descobertas -  já que não há porto seguro. E, homens ou mulheres, no fim das contas o sol nasce para todos, o horizonte é sempre amplo e a vida um oceano de possibilidades.

Andressa Barichello, paulistana de nascença, curitibana pelo acaso.

Escreve crônicas, contos e poemas. Escreve pra tentar fazer sentido, para si e para os outros.

É co-idealizadora do projeto Fotoverbe-se! e.... e.... e...

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Sobre justiça...


Uma quantidade expressiva de pessoas acredita estar onde está porque trabalhou (ou alguém por ela) por isso e que, quem não está é porque não trabalhou ou trabalhou pouco (ou quem por ela). 

Tendo sido algumas vezes citada em roda de amigos e até para desconhecidos como exemplo de determinação e força de vontade gostaria de usar esse meu espaço para deixar bem claro: não estou onde estou porque trabalhei por isso… estou onde estou porque sou branca, inteligente, de classe média e tive muitas oportunidades. Sim as agarrei e transformei o meu privilégio e oportunidades em frutos positivos para mim e a minha família mas tenho plena consciência de que em outro contexto as coisas poderiam ter sido completamente diferentes. 

A questão da maioridade penal é apenas uma das que tem me tocado profundamente pois não consigo crer que 80% da população realmente não enxergue a catástrofe na qual estamos nos dirigindo caso isso de fato passe. A discussão política cada vez mais agressiva e desprovida de empatia, a indiferença de muitas pessoas ao sofrimento humano também têm me deixado bastante perplexa e, por vezes, desesperançosa. 

Não acho que seja questão de tirar o livre arbítrio das pessoas. É questão de permitir que todos possam sair do mesmo ponto de partida. É não punir mais ainda as vítimas. É compreender que reconhecer privilégios não desmerece e nem diminui o seu esforço (ou de quem por você). 

Particularmente eu vejo a meritocracia como a falácia na qual os privilegiados se agarram para justificar para si mesmos as injustiças deste mundo. 

Eu mesma já acreditei nesta falácia e algumas vezes me espelhei no meu exemplo para bradar essas barbaridades por aí. Afinal de contas não é fácil admitir para si mesma e para os outros que mais do que tudo nessa vida o que eu tive foi: SORTE! Sim, sorte de nascer de uma família com dificuldades financeiras mas com um background financeiro. Sorte dos malucos dos meus pais terem ido morar na Itália e eu ter tido um ensino básico de primeira. Sorte de ter uma inteligência acima da média e sempre ter me destacado nos ambientes escolares e depois profissionais. Sorte de saber cativar as pessoas certas e que elas se mobilizassem por mim. Sorte por ser branca, sorte por não ter nenhuma limitação física que limitasse minha aceitação e por aí vai... Como diria o já saudoso Eduardo Galeano: A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la. 

"Ahhhhh que exagero! Você acha então que é tudo uma questão fatalista e que as pessoas não tem escolha e o esforço não deve ser recompensado?" Não! Não acho! Acho que as pessoas tem escolha dentro de seus contextos e que nem sempre o esforço é recompensado pois vivemos em uma sociedade injusta. Acho que pessoas que como eu possuem tudo quanto é tipo de privilégio tem a obrigação moral de ajudar a melhorar a situação de quem ficou lá atrás no sorteio da vida! E, mais do que tudo acredito, assim como John Rawls que: "Fazer justiça não é recompensar o mérito moral. Fazer justiça consiste em ter benefícios advindos da cooperação social, em cumprimento às regras do jogo (principio das igual liberdade e princípio da diferença). Justiça, portanto, nada tem que ver com a  loteria da vida, isto é da diferença natural, justiça tem que ver com como as instituições lidam com esses fatos". Para ler na integra clique aqui. 

Espero e peço ao Universo todos os dias que a minha condição atual jamais me faça esquecer das injustiças e misérias deste mundo e nem de estender o braço para quem não tem, não teve e não terá a mesma sorte! 


sexta-feira, 10 de abril de 2015

Vivendo e aprendendo...



Hoje de manhã recebi um whatsapp de uma amiga que, assim como eu, está na luta com as tentativas da gravidez só que há mais tempo (uns 5 anos). Consegui entender perfeitamente a sensação que ela descrevia ao relatar que seu irmão (mais novo), ainda sem emprego e na faculdade, engravidou a namorada que tomava pílula e que, portanto, ela terá mais um sobrinho (pois sua outra irmã mais nova está grávida do segundo filho!). Em seu desabafo ela se perguntava, como todas nós em algum momento nos perguntamos, “porque”? Por que eu não? E, na parte que mais me tocou: “o que ainda preciso aprender para que Deus me torne merecedora deste filho”?

Esta semana uma das minhas melhores amigas descobriu que está grávida de seu segundo filho. Eu estava desconfiada pelas nossas conversas e resolvi dar uns testes para ela tirar logo a dúvida. Ela não estava exatamente tentando... Quando recebi a mensagem dela meu coração acelerou muito mais do que quando soube do primeiro e era uma felicidade enorme... fiquei emocionada e meu coração não sentiu um pinguinho de tristeza ou de injustiça... fiquei apenas pura e genuinamente feliz! Liguei para o meu marido felizona (acho que ele até estranhou o quanto eu estava tranquila!). Acho que fiquei mais empolgada dessa vez porque na gravidez do primeiro eu estava morando em São Paulo e fiquei muito triste por não ter conseguido acompanhar tão de perto... não estava aqui no dia do parto embora tenha vindo de férias para esperar o danadinho na semana anterior, mas acabou não dando. Ocorre que no mesmo dia em que ela me deu essa notícia eu tinha consulta com a médica que vai fazer o procedimento (videolaparoscopia) para verificar e tratar uma possível endometriose.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Uma declaração de amor...


O post de hoje é uma declaração de amor! Uma declaração de amor ao meu amor!

Hoje não é nenhuma data especial mas mais um dia em que me sinto grata no mais profundo e íntimo aspecto do meu ser por amar e por ser amada por uma pessoa que parece ter sido criada especialmente para mim com todas as suas qualidades e defeitos que se encaixam mais do que perfeitamente com os meus.

O nosso amor não é perfeito, nem mesmo sempre altruísta, muitas vezes é até infantil, mas é um encontro de almas!

O nosso amor não é o mais meloso, nem o mais romântico! O nosso amor não é possessivo (já foi!), nem tradicional. O nosso amor não é inquestionável ou imutável! O que nós temos não é de graça! É cultivado, regado, às vezes se esmorece um pouco, desanima... Mas volta mais forte sempre!

Nem sempre fui merecedora de todo esse amor e nem sempre fui fácil de conviver ou tolerar, mas acredito que poucas pessoas possam dizer, como eu posso, que nesses anos todos não houve UM ÚNICO DIA em que eu não o tenha amado profundamente!

O que faz com que eu me sinta assim? Não é a louca paixão que senti desde o primeiro momento em que nossos olhares se cruzaram muito antes de sermos formalmente apresentados. Não é o fato de ele ser incrivelmente inteligente e uma das pessoas mais carismáticas que eu conheça. Também não é a tolerância dele às minhas elucubrações filosóficas nos momentos muitas vezes mais inconvenientes. O que faz com que eu me sinta assim é que ele é o meu colchão!

O primeiro quarto de século da minha vida passou longe de ser fácil e, por razões de personalidade e/ou de experiências desde muito nova assumi responsabilidades muito maiores do que as condizentes com a minha idade biológica. Embora já há um bom tempo as coisas tenham melhorado significativamente e eu tenha conseguido me libertar um pouco da sensação de achar que sou responsável pelo destino de tudo e de todos reprogramar-se não é tarefa simples e ainda tenho a tendência de querer carregar muito mais do que preciso ou devo.

Mas ao lado dele, do meu amor, me sinto segura e protegida no único lugar do mundo onde eu não preciso ser forte nem guerreira! É ao lado dele que me sinto livre para ser vulnerável... e essa sensação é simplesmente libertadora! Com ele quero comemorar todas as minhas conquistas e no seu colo quero chorar as derrotas.Ele é o meu colchão porque eu sei que se e quando eu cair não vou me estrepar no chão porque ele estará ali para me segurar e aliviar a queda!

Como todo casal que está junto há bastante tempo nós temos várias músicas “nossas” mas existe uma que me toca muito em especial porque resume perfeitamente em uma frase: “A melhor parte de mim leva o meu caminho até você.”

Esse post então é sobre o amor... é sobre mim... e sobre o como só sou o que sou e como sou hoje porque tenho um colchão macio que me permite voar alto...


Esse post é sobre gratidão! 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

A desvantagem de ser extrovertida

Qualquer pessoa que me conheça por poucos minutos que seja rapidamente concluiria que sou extrovertida. Sou falante e barulhenta (sim porque além de muito eu falo alto!). Já pensei até em fazer fono para engrossar a voz pois sei o quanto posso ser irritante e estridente... sou capaz de falar por horas e horas a fio e isso desde muito nova. Uma daquelas histórias familiares que rendem risadas (mais dos outros do que minhas) é de quando eu e meu avô viajamos para visitar o irmão dele em Anápolis. Eu devia ter uns 3 ou 4 anos e a viagem de São Paulo a Anápolis de ônibus era de 14 horas. Meu avô é surdo dos dois ouvidos e usa aparelho. Segundo a lenda urbana eu fui falando de São Paulo até lá sem perceber que ele estava com ambos os aparelhos desligados e sequer estava prestando atenção ao que tinha a dizer!

Ser extrovertida tem sim algumas vantagens. Falo para uma plateia de 200 pessoas com a mesma facilidade com que converso com uma amiga de anos. Também me viro fácil em qualquer ambiente em que eu não conheça absolutamente ninguém. Sou uma ótima companhia para levar a happy hour do escritório ou como acompanhante em casamentos pois jamais vou ficar deslocada e provavelmente sairei de lá com mais amigos do que a pessoa que me levou. É claro que ser introvertido também tem muitas vantagens e hoje aliás se fala cada vez mais sobre isso e sobre como a introversão pode ser um diferencial competitivo no mercado de trabalho e até no relacionamento.

Dei um Google com o seguinte termo: “desvantagens de ser extrovertido” e por alguma razão só aparecem desvantagens de ser tímido e comparações sobre os pros e contras de uma coisa e da outra. Existe porém uma desvantagem essencial na extroversão da qual pouco se fala e que, pelo menos para mim, é bastante incomoda que é o fato de não nos ser permitido silenciar.

Sim, ninguém se incomoda ou se choca com a extroversão ocasional do tímido. Mas tente você ser falante querer ficar quieto no seu canto por um dia... Sério! É um tormento! “O que você tem?” “Você tá bem?” “O que aconteceu?” “Que cara é essa?” “Nada, só quero ficar um pouco quieta na minha” “Mas por que? Aconteceu alguma coisa né?” e assim por diante... Toda vez é a mesma coisa!

Sim, às vezes estamos quietos porque realmente aconteceu alguma coisa, às vezes não. Mas eu fico me perguntando: o fato de eu ser falante me obriga a falar sempre? Não me lembro de ter feito nenhum tipo de promessa de compartilhar tudo e absolutamente tudo que acontece dentro dessa cabecinha fervilhante.

O mais intrigante é que às vezes você está mais quieta justamente porque dias antes recebeu um feedback de que precisa falar menos em determinadas situações e, sendo um ser com semancol mínimo, resolveu aplicar-se nesta tarefa (já falei aqui sobre como me esforcei muito para ser uma pessoa mais silenciosa em todos os sentidos) e, com muita força de vontade, engolir o máximo de pensamentos que lhe vêm à cabeça nesse esforço hercúleo de reduzir a quantidade de palavras por dia. Aí justamente a mesma pessoa que te deu o dito feedback vem te perguntar “o que aconteceu que você tá quieta?” PQP sério mesmo??? Bora se decidir se querem que eu fale ou não! Afe!

Momentos de introversão são essenciais a todos nós e são neles que normalmente tenho importantes insights. Não me vejo jamais sendo uma pessoa tímida e hoje após bastante terapia e algumas várias porradas sou feliz e grata por ser do jeito que sou mas o desabafo vai para que introvertidos saibam que extrovertidos também sofrem e algumas vezes sofrem em silêncio...


quinta-feira, 2 de abril de 2015

Homem "de verdade" também estupra!


Hoje, enquanto lia o Blog da Lola, me deparei com esse texto e não consegui tirar ele da minha cabeça... ficou martelando lá no fundo como uma goteira chata quando você não fecha a torneira do banheiro direito...

Todas as mulheres que eu conheço tem pânico do estupro classicamente retratado na mídia. O do desconhecido na esquina escura, provavelmente fedendo a cachaça, que tapa a sua boca ou coloca uma arma na sua cabeça enquanto te penetra violentamente. Já ouvi de mulheres e já falei também muitas vezes que reagiria a um assalto se o cara quisesse me levar junto pois “melhor tomar um tiro do que ser estuprada”. De fato, é esse o estupro que temos em mente quando pensamos no tema. Só que essa é mais uma historinha da carochinha que nos é contada e nos coloca em perigo. Não apenas o perigo físico, mas o psicológico que nos acompanhará por toda a vida.

Diz a Lola: "A maior parte dos estupros é cometida por conhecidos (parentes, amigos, namorados, maridos) da vítima, e em sua casa. Isso não ensinam pra gente. É muito fácil limpar a barra dos homens ao pensar que quem estupra é um monstro. Porque não é. É um cara que pode ser muito simpático em outras oportunidades, mas que aprendeu que “forçar a barra” não é estupro. Aprendeu que quando a mulher diz “não” ela só está se fazendo de difícil. Aprendeu que as mulheres adoram ouvir cantadas de teor sexual na rua. Aprendeu que mulher não gosta muito de sexo, então, se ele não insistir, não vai rolar”.

Se você é homem pode ser que não entenda esse post de início, mas te peço de coração que leia até o final! Talvez você ache que jamais estuprou ou abusou de alguma mulher pois “depois de forçar um pouco a barra ela gostou” ou “ela acabou cedendo” ou coisa parecida que você ou seus amigos se reforcem para justificar suas ações.