quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Criar é sofrer?

“Na vida você tem de escolher entre tédio e sofrimento”. (Madame de Staël)

Venho de uma família de artistas e sempre me intriguei com o como a produção e a qualidade da arte constantemente parecem estar ligadas ao sofrimento do artista. Momentos de paz e serenidade parecem não serem produtivos ou “não renderem conteúdo”. Não preciso olhar apenas para minha família para verificar essa máxima. Basta folhear revistas de celebridades, biografias de grandes artistas e documentários para verificar como são constantes os casos de grandes gênios infelizes, com vidas pessoais péssimas, relacionamentos doentios, muitas vezes afundados em vícios autodestrutivos.

De fato momentos de paz e tranquilidade e rotina não foram muitos na minha infância e adolescência e, talvez até por isso, como forma de rebelião ao crescer busquei me distanciar ao máximo dessa realidade procurando uma carreira tradicional e estável muito pouco ligada à criatividade no sentido estrito! 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

#1LivroPorSemana - Semana 7

Filho-Cão dodói atrasou o post mas não a leitura. 

S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L esse livro!

Comecei a leitura atrasada mas foi tão gostoso de ler e de me identificar na problemática que fluiu como nunca.

“O Feminismo mudou a Ciência” de Londa Schienbinger me trouxe muitos insights sobre as construções de gênero. Reproduzo aqui uma frase que resume bem o que eu concluo, não apenas no que diz respeito à ciência, mas à inúmeras outras áreas do conhecimento humano! 

“(...) a história descarta o mito do progresso inevitável no que diz respeito às mulheres na ciência. Há um senso de que a natureza segue seu curso – que, dado tempo, as coisas se endireitam sozinhas. A história das mulheres na ciência, contudo, não foi caracterizada por uma marcha de progresso, mas por ciclos de avanço e recuo. A situação das mulheres mudou junto com as condições sociais e os climas de opinião.”

Sendo muito honesta não tenho dicas “novas” essa semana! A leitura foi simples, foi agradável e reflexiva. Até comecei outro livro na sequência, antes de acabar o desafio desta semana!

É, talvez essa seja a dica:

9 – se estiver adiantada, comece já outro livro para ganhar tempo. Nunca se sabe o que virá na semana seguinte!

E o livro dessa semana é “A dominação Masculina” de Pierre Bourdieu. Um clássico autor abordando a questão de gênero através do estudo de uma comunidade “primitiva” mediterrânea: Cabília.

Junto com esse, estou relendo o “Faça Acontecer” da Sheryl Sendberg para o 2º Encontro do GLF que será segunda 02/03.

Essa semana promete! E vamos que vamos!

Até semana que vem #1LivroPorSemana 



Convite a uma suave contradança - "Outras Palavras" - Andressa Barichello


Há algumas semanas durante a revisão de textos escritos há mais de um ano, me deparei com um texto de 2013. De lá pra cá algumas coisas mudaram. Contudo, a inquietação a respeito de como nossos corpos (especialmente os corpos de mulheres) são reiteradamente invadidos continuou marcada - convivemos com agressões que podem ser devastadoras em sua sutileza, a qual tantas vezes nos impede de identificar e traduzir episódios abusivos. Hoje acrescentaria a esse texto um único complemento: A invasão ao corpo do outro, para além de uma leitura feminista de práticas que desvelam o lugar a partir do qual a mulher é olhada em sociedade, parece ser também uma consequência extremada da possibilidade que temos de acessar os outros simbolicamente a todo momento. Talvez essa tamanha liberdade que temos de demandar “online” propiciada pela tecnologia, pela internet e pelos “dispositivos móveis” em alguma medida caminhe em paralelo com a restrição dos espaços físicos – é urgente lembrarmos que “dar um toque”  no sentido figurado nos é facultado, mas um toque físico demanda consentimento. Por mais aproximação empática, compreensiva, respeitosa – para estar junto e próximo a alguém é preciso bem mais do que um corpo de carne e osso!

CONVITE A UMA SUAVE CONTRADANÇA
É frequente nas redes sociais a divulgação de textos que alertam para práticas machistas. As nuances abordadas são muitas e, particularmente, acho que vale a pena ficarmos atentas a certas atitudes que, de tão reiteradas, muitas vezes passam despercebidas. Atitudes que nos fazem sentir desrespeitadas e constrangidas, para dizer o mínimo. 
Algo que tem chamado a minha atenção é a recorrente falta de credibilidade dada ao "não" quando este é enunciado por uma boca feminina. Muitos homens realmente acham que "não" é "sim” porque, oras: nós mulheres sempre estamos "nos fazendo" para não parecermos "fáceis demais"!
A mediação das relações pela palavra tem falhado e a mulher, especialmente a solteira, é muitas vezes vista como sempre disponível e suas recusas "no fundo não passam de charme" ou, quem sabe, de "falso moralismo". Penso que o velho exemplo do "vestida assim pediu para ser estuprada" é o extremo de uma prática cruel que pode ter contornos bem mais sutis no dia a dia. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sobre as falácias a respeito da geração Y


Muito se fala sobre os defeitos e problemas no trabalho dos profissionais da famigerada Geração Y. 

Circulou bastante pela internet tempos atrás um artigo bem humorado que trazia uma explicação até bastante lógica para justificar uma suposta frustração desta geração em e com suas vidas profissionais. Eu acho até que compartilhei esse artigo na época, mas recentemente me foi encaminhado novamente e não pude deixar de lê-lo com outro olhar após tanta água ter rolado debaixo desta ponte!

Antes é preciso que eu faça a ressalva de que sim, eu também sou uma Y embora nunca tenha me considerado uma “típica” fato que sempre atribui a ter passado longe da infância yuppie descrita pela maioria dos psicólogos ao explicar a patológica arrogância e exacerbada autoestima de um Y clássico!

Bem, antes de mais nada, me dei ao trabalho, antes de escrever esse texto, de ler mais de um artigo de experts no assunto, inclusos esse aqui e esse outro aqui e parar para tirar minhas próprias conclusões. Vou reforçar, porém que, as conclusões que aqui trago são baseadas na minha visão de mundo e nas minhas experiências profissionais (de quase uma década) com chefes, colegas e “subordinados” também Y, X ou Baby-Boomers. (hummm talvez eu seja uma típica Y que olha somente para o próprio umbigo! ;) )

Então, as principais críticas à minha geração seriam que “por ter crescido com pais que te fizeram acreditar que você era especial e que o fracasso era relativo, você espera que o mundo se curve aos seus pés e que as empresas te transformem em CEO em 2 anos (quando não em menos), quando na realidade o que precisamos é cair na real, parar de viajar na batatinha, de achar que chefe é brother e pode ser tratado como tal e entender que S-U-C-E-S-S-O deve necessariamente ser precedido de muito T-R-A-B-A-L-H-O – leia-se: horas extras intermináveis fazendo planilhas inúteis e sem propósito para agradar seu chefe estúpido que mal sabe diferenciar onde começam as bolas do chefe e onde termina a língua dele!” UFA! Acho que consegui resumir!

Sabe o que eu acho disso? BULLSHIT!!! Como diriam os colegas no USA ou como diríamos aqui em terras tupiniquins mesmo PAPO MUITO DO FURADO!

Acredite, eu conheço muitos Ys! Muitos mesmo e NUNCA ouvi alguém me dizer que estava insatisfeito no trabalho porque queria ser promovido gratuitamente... já ouvi sim (e pensei também) coisas como: “meu chefe é um bosta e me pede coisas sem propósito!”; “metade dos meus colegas não faz porra nenhuma e eu estou trabalhando 12 horas por dia para cobrir a parte deles e isso NÃO E LEGAL!”; “não me identifico mais com os valores da empresa”; “quero ter uma vida pessoal em equilíbrio”; “quero ter qualidade de vida”; “quero aprender algo novo e não ficar fazendo relatório em excel ou apresentações em power point que servem única e exclusivamente para justificar números imbecis que algum diretor falou que iria fazer e agora o departamento inteiro tem que ficar tentando demonstrar o número dele ao invés de assumirmos que erramos e encontrar uma solução mais eficaz”.

Tudo isso eu já ouvi sim e quer saber? Eles estão certos!

O que os Baby-Boomers e Xs chamam de “trabalho duro” e que nós supostamente não gostamos muito foi a custo de relacionamentos, de vida pessoal estraçalhada (sim, somos os filhos dos divórcios!) ou de muita puxação de saco, para depois serem demitidos com um belo de um pé na bunda e ainda levarem para o pessoal.

Falamos com chefes e colegas com informalidade pois respeito tem que ser conquistado e não imposto! Na geração X chefe era chefe e ponto final, assim como pais usavam respostas altamente complexas como “porque sim!” e “porque eu estou mandando” para os questionamentos saudáveis e justificáveis de seus pimpolhos.

Não há nada de errado em acharmos que podemos ser promovidos em 1 ano se a pessoa que ocupa o lugar almejado de fato está lá há 10 anos fazendo a mesma baboseira de sempre sem trazer nada de significativo ou que contribua apenas ganhando mais por “antiguidade”. Acredite: nenhum Y despreza um chefe que de fato seja líder e com o qual aprende! Agora, se você não tem nada a ensinar não reclame se eu acho que mereço o seu lugar! 

Mudamos de emprego se não estamos satisfeitos com a forma como os negócios são conduzidos porque precisamos acreditar no que fazemos! E não, não iremos nos conformar com “sempre fizemos assim” pois foi isso que nos levou ao aquecimento global, à falência dos recursos hídricos, à crise de 2008 (só para citar mais uma), à uma política degenerada e a práticas empresariais de assédio no mínimo questionáveis!

Não somos “revoltados”. Temos valores éticos elevados e separamos e reciclamos o lixo! Fumamos menos, comemos melhor e queremos deixar um mundo mais justo e igualitário para os nossos filhos com os quais sim queremos passar a maior quantidade de horas possíveis mesmo tendo uma carreira. E não sou só eu que estou dizendo isso mas os números.

Fala-se muito que os Y “acham que o trabalho deve ser uma extensão da sua casa com uma atitude ‘se nem meu pai fala assim comigo, quem esse chefe pensa que é para fazer isso?’” e eu não consigo entender onde está o erro neste raciocínio!!! Não devem as pessoas se tratarem com respeito mútuo? O que faz do “chefe” alguém tão especial? Não é ele um líder que deve conduzir sua equipe ao melhor resultado possível gerando lucros à organização? Então, qual é realmente o problema desse chefe em ser confrontado pelo colaborador?

Tenho a impressão de que os mesmos chefes reclamões-mimimi quanto à geração Y são os que não entendem que existem formas mais sábias e saudáveis de se disciplinarem os filhos que não a violência e continuam compartilhando (sim X também povoam as redes sociais) imbecilidades como: “no meu tempo a gente apanhava de cinta e nem por isso morreu e ainda de quebra aprendeu a dizer por favor e obrigada!”. Pena que no seu tempo também se poluíam rios impunemente e se achava a coisa mais normal do mundo "a mulher se dar ao respeito", bullying nem era uma palavra e o Papai Noel fazia propaganda de cigarro... É, isso sim era legal para cassete! 

Quanto à "problemática" do querer realizar sonhos a qualquer momento, sem precisar “correr atrás” para mim nada mais é do que um sistema antigo de exploração de mão de obra inconformado com a perda de empregados dispostos a aceitarem tudo quanto é tipo de imposição e de merda goela abaixo em nome da “estabilidade” no emprego!

E daí, se eu quiser largar meu emprego na firma para virar palhaça de circo? É você quem vai pagar minhas contas? E se forem meus pais, o que é que você tem a ver com isso? Não seria problema deles? E se você acha isso errado (que eles paguem) não seria então um problema mais da geração anterior (pais) do que propriamente da Y? Acredite: quando se trata de sobrevivência não há geração que não corra atrás do seu... Isso é ainda mais verdade considerando que a busca por talentos continua aquecida e são as empresas que não conseguem reter esses profissionais e não o contrário! Não vejo amigos Y que tomaram decisões ousadas se lamentando por aí de suas decisões... vejo sim empresas desesperadas por não conseguirem reter seus talentos com práticas de motivação ultrapassadas, jornadas inflexíveis e ambientes hostis que não propiciam um bom relacionamento e trabalho em equipe (coisa que todo bom Y que se preze A-M-A, afinal, somos também a geração do RPG)!

Outro mantra comum é o de que as expectativas dessa geração são muito altas, o que gera frustração. Eu já acho o contrário! Acho que as expectativas da geração anterior é que eram baixas demais! Desculpem mas ninguém vai me convencer de que uma vida na qual trabalharei 30 anos como um camelo esperando a promoção vir pelo bom humor do chefe sem ter qualidade de vida com a minha família, sem poder viajar e desfrutar de minhas férias, tendo que aturar tudo quanto é chefe bunda por aí, irá compensar a boa aposentadoria que receberei para os deliciosos 15-20 anos de viagens com idosos como eu para termas que aparentemente são boas para o reumatismo!

Não há nada de errado com as nossas expectativas de uma vida mais equilibrada, com qualidade de vida e relacionamentos mais profundos, enquanto lutamos por conceitos como igualdade (social, de gênero, etc.) e melhora do meio ambiente antes que o planeta exploda com todos nós dentro dele!

Mudanças são desconfortáveis! Choques geracionais existem e existirão sempre e isso é bom pois eles trazem questionamentos quanto ao status quo e combinam, ou ao menos deveriam, experiência com jovialidade, frescor e ideologia (que meus amigos mais velhos concordarão só são possíveis de se manter quando se é jovem, pois, como diria meu avô, "quando já se viu demais na vida é quase impossível manter-se um otimista!")

E outra coisa: somos todos especiais SIM! Até Jesus Cristo disse isso, então não vai ser um patrãozinho qualquer que vai me convencer do contrário... né não?! ;) 

Então hoje, após muito refletir chego à seguinte conclusão: sou sim uma típica Y! Quero mesmo ter qualidade de vida e ao mesmo tempo quero aprender coisas novas e trabalhar muito, mas no que me dá prazer e para um líder que me inspire e me ensine! Não para um burocrata que coça o saco o dia todo e fica me pedindo bizarrices! Quero também ter uma família e viajar aos finais de semana e nas férias para lugares desconhecidos! Quero deixar um mundo melhor para os meus filhos e quero que eles saibam que realmente a vitória não é o único mérito, que o “como” é tão ou mais importante do que o “quê” e que todos devem ser tratados com respeito, sejam chefes, colegas, liderados, pais, mães, avós e filhos! Quero que eles saibam que tudo bem também vender água de coco na praia pois dinheiro não é tudo na vida, mas que isso vai significar renunciar possivelmente a outras coisas que só o dinheiro compra! Quero que eles acreditem, assim como eu hoje acredito, que tudo bem ir viajar o mundo e depois voltar, que empresas sempre estarão por aqui esperando alguém que as ajude a ganhar mais dinheiro para seus acionistas, mas que a vida, o momento, o olhar, esses são únicos e não voltam mais e portanto é com esses que devemos nos preocupar mais! 

Esse post é dedicado à minha amiga e puta profissional Karen Duque e à Carol Fernandes que representam um pouco do que há de melhor dessa geração... 


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

#1LivroPorSemana - Semana 6

Ok, semana de Carnaval e como boa brasileira (ainda que tenha passado bem longe da folia) tudo ficou suspenso! Inclusive o post da 6ª semana do desafio #1LivroPorSemana.

“História oral, feminismo e política” foi bem gostoso de ler, embora um pouco perturbador nesse meu momento de feminista iniciante já que a estudiosa Daphne Patai encontra-se já naquele momento de ceticismo característico de quem já viu demais.

A obra trata de forma bem interessante de seus desafios ao longo de todos esses anos como estudiosa do feminismo através da história oral, ou seja do depoimento de mulheres no Brasil. Relata vários conflitos éticos e como estes têm sido abordados pela academia americana e também sobre a politização das ciências sociais. Em vários momentos fiquei reflexiva e de certa forma incomodada. Não compartilho de todas as suas conclusões sobre as políticas afirmativas mas coloco aqui um trecho para reflexão e provocação para que cada um tire suas próprias conclusões após a leitura:

No entanto, os acadêmicos têm galgado novos patamares na pretensão vaidosa de que os males do mundo podem ser curados pela mera exibição de revelações pessoais. Eles parecem acreditar que, sempre que escrevem um artigo em que declaram sinceramente suas posições, estão “fazendo política”. Porém, a autorreflexividade não muda a realidade. Ela não distribui renda, não oferece direitos políticos aos mais necessitados, não constrói casas para os desabrigados, nem melhora a saúde.”

Dica dessa semana:

8 – aproveite os feriados-folgas-finais-de-semana de forma produtiva e se possível para adiantar a leitura!

Esta semana o livro me foi indicado por uma nova amiga linda feminista e é uma forma de “começar pelo começo” pois estou sentindo falta de alguns conceitos básicos para o entendimento do que vem pela frente! “O Feminismo mudou a Ciência” de Londa Schienbinger deve me trazer uma introdução didática sobre o movimento na história e suas variadas “facetas”.

Já estou atrasada, mas me foi prometido que é uma leitura fácil e dinâmica!

Até semana que vem #1LivroPorSemana (ou melhor até daqui a 4 dias!) 




Sobre Orange is the New Black e a compaixão...


Passei o Carnaval assistindo as 2 temporadas de Orange is the New Black enfiada dentro de casa com o marido e o cão com uma chuvinha bastante propícia para tanto.

Para quem não sabe, esta série do Netflix inspirada em uma história real se desenvolve ao redor da história de uma mulher em seus 30 e poucos anos (ou menos!) da classe média alta nova-iorquina condenada a cumprir 15 meses numa prisão feminina federal por ter participado do transporte de uma mala de dinheiro proveniente do tráfico de drogas a pedido da sua ex-namorada.

Mais interessante até do que a transformação de Piper neste atípico ambiente e do que o desenrolar da doentia relação amorosa com sua ex-namorada que constantemente a está colocando em maus lençóis, foi a análise e reflexão sobre cada uma das personagens secundárias e de como essas histórias estão aí todos os dias ao nosso lado sem que sequer nos demos conta.

Devo dizer que a série é muito bem escrita e as atuações no geral me agradaram bastante, mas assistir a essas 2 temporadas me deixou com o estomago embrulhado o feriado inteiro! Pensar em como o sistema é podre, em como meninas entram em uma prisão com mínimo potencial ofensivo e saem (se é que saem pois quase sempre voltam) como perigosas criminosas frias e calculistas e totalmente descrentes quanto à capacidade do Estado de protege-las ainda que minimamente é um soco na cara. Por outro lado, relembrar que, o que a primeira vista parece ser apenas uma criminosa é uma mulher com uma história, com dores, com traumas e, quase sempre, com algum lado bom e capaz de ao menos algum tipo de gesto solidário e humano me deu um certo desanimo geral quanto ao que eu realmente posso fazer para melhorar esse mundo tão fucked up

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A favor da vida de quem?

O post sobre o aborto fez muito sucesso! Foram inúmeras curtidas em 2 dias no Brasil Post (mais de 18 mil) e vários compartilhamentos. Mas teve também muitooooo ódio! Muito xingamento e muita gente tentando me convencer de que aborto é assassinato e usando técnicas de retórica e dialética com as quais eu não concordo mas que tem uma certa coerência dentro da lógica da pessoa. 


Por isso sinto a necessidade de responder de forma coletiva pois realmente não tem como rebater cada argumento já que partimos de premissas diferentes e eu disse isso no texto ("contra dogmas não há argumentos"). 



Para quem acha que o feto é uma vida EQUIVALENTE à vida da mulher ficaremos aqui até o final dos tempos e não concordaremos nunca com a descriminalização. Todos os argumentos que foram colocados de que "o assassinato é crime, o assalto é crime então teria que liberar assalto também porque os assaltantes correm risco de vida, bla bla bla, que uma coisa não justifica a outra" e muitos outros, partem dessa premissa que para mim é equivocada. 



O FETO NÃO É EQUIVALENTE EM DIREITOS À MÃE!!! 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Sobre o aborto...


Após o comentário do digníssimo presidente da câmara dos deputados sobre sua posição em relação ao aborto, estávamos comentando em uma roda o tema mais uma vez. Como defensora que sou da legalização do aborto fui questionada por uma colega sobre “como eu poderia ser a favor de matar uma criança quando eu estava lutando tanto para conseguir a minha desejada gravidez”.

Para mim, as razões para ser a favor da legalização do aborto são óbvias e confesso que tive até uma certa dificuldade de entender o que o cú tinha a ver com as calças, mas aí me dei conta de que o que faz com que tanta gente fale tanta bobagem a respeito do tema é justamente o não saber separar conceitos que vejo como básicos.

O ponto de partida mais básico aqui é: ser a favor da legalização (ou da descriminalização para quem não quer chegar a tanto) NÃO SIGNIFICA ser a favor DO ABORTO! Significa não achar que mulheres que passam por uma gravidez indesejada não tenham o direito de terminar essa gravidez de forma segura e sem colocar suas vidas em risco ou irem para a cadeia por isso!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Se eu tivesse dinheiro...


A beleza alheia nunca me incomodou. Sempre fui cheia de amigas lindas (não apenas como seres humanos mas dentro do estereotipado padrão que nos é imposto) e isso para mim nunca foi um problema. Aliás gosto de me considerar uma admiradora da beleza bastante imparcial. Costumo conversar com meu marido sobre como “fulana é muito bonita, mas não tem sex appeal” e “beltrana é charmosa embora não esteja exatamente dentro do padrão”, e assim por diante.  Admiro o que está aí para ser admirado e que faz bem aos olhos, seja uma obra de arte, uma paisagem deslumbrante ou um homem e uma mulher bonita. E claro, tudo isso pode e deveria ser extremamente pessoal e intimo pois o belo para mim não será necessariamente belo para você (pelo menos assim deveria ser).

Muito bem, então hoje, ao passar o dedo pela timeline de um grupo do qual participo, me deparo com uma série de comentários maldosos após o compartilhamento de uma notícia sobre uma modelo X que em poucos meses após a gravidez já havia retornado à sua forma habitual. Uma esmagadora maioria ponderava que “com o dinheiro que ela tem até eu” e uma outra importante parcela afirmava que “o custo para isso era a saúde dela e do bebê e a falta de atenção e cuidados ao mesmo visto que tinha que largar o filho com estranhos”. Fiz uma careta e pensei: por que tanto ódio no coração minha gente?

#1LivroPorSemana - Semana 5

Quinta semana de qualquer desafio pode bater aqueeeeela preguiça. Aqui bateu! Um pouco porque a semana foi ultra corrida, um pouco porque o livro era uma pira muito grande, mas fato é que procrastinei ao máximo e por muito pouco não consegui cumprir o desafio essa semana. Deixei quase que o livro inteiro para o domingo à noite e, em um momento total de sono pensei inclusive em deixar para lá “apenas esta semana” e recuperar na próxima!

Por sorte eu tenho esse compromisso aqui no Blog e sabia que pessoas poderiam decepcionar-se com a minha falta de força de vontade então fui até o final, ainda que tenha significado levar o livro para cama à meia noite e sacrificar algumas horas de sono!  

“A Entrega”, relata o processo pessoal de entrega do autor, sob a forma de uma comunicação telepática e direta com os anjos. Assim como os demais livros que li do Pierre a linguagem é direta, frases curtas e até um pouco duras aos olhos. Não tem tanta fluidez e parece que ele coloca no papel os pensamentos quase que exatamente como eles vem à mente! Do ponto de vista literário longe de ser o meu preferido, mas a inspiração ao ler o que esse ser iluminado viveu e compreendeu do processo certamente compensa a falta de “estilo”.

Uma frase me tocou bastante e ficou de inspiração para a vida: “Assim, a respiração nos ensina outra lei: todos os seres vivos são obrigados a respirar, logo ao nascer. A nossa missão primeira nesta vida é vive-la”.

O livro todo fala da entrega, do render-se e de suas variadas formas de fazê-lo sejam biológicas, espirituais, nos relacionamentos bem como a importância de mudar nossa postura diante da morte, dentre outras. É realmente um desafio mais do que complexo, ao mesmo tempo em que parece altamente recompensador a julgar pela experiência do autor.

Dica dessa semana:

7 – não largue o desafio mesmo que dê vontade de chutar o balde ainda que “só por essa semana”! Não será só por essa semana, pois, uma vez que você desistiu sem consequências ou até por vergonha, fica mais difícil voltar. Isso acontece o tempo todo comigo quando se trata de exercícios e dieta! Além do mais a sensação de ter conseguido é altamente recompensadora!

O livro dessa semana segue na esteira de minha ânsia por mais conhecimento teórico do feminismo.

“História oral, feminismo e política” reúne conhecimento, experiência e autonomia intelectual ao reproduzir ensaios que reúnem parte da obra da estudiosa Daphne Patai em torno dos temas que compõem o título. 155 páginas para essa semana que promete ser corrida também! Desta vez sem procrastinação hein... e vamos que vamos!

Até semana que vem #1LivroPorSemana 



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Sobre a gratidão...


Tudo o que eu escrevo aqui é bastante pessoal, principalmente por serem opiniões (sim eu sou uma garota cheia de opiniões!), sentimentos e frustrações baseadas em experiências reais e muito minhas.

Em geral gosto de escrever para mim e para dar vazão à minha notória ausência de filtro entre cérebro e a língua. Sim, ao invés de dizer na cara certas coisas que não costumam ser bem compreendidas escrevo aqui meio que sem alvo preciso e assim coloco para fora essa imensa necessidade que tenho de compartilhar o que penso desde que aprendi a falar (a long time ago!!)

Meu lado (direito e esquerdo) cheio de opiniões está longe de ser um consenso, pois muitos amigos e familiares, se irritam com ele, ainda que, mesmo sem talvez darem-se conta, me amam também por isso (ou apesar disso).  É por isso que, após ter ouvido a vida inteira que eu deveria falar menos e aprender a ficar quieta e ter crescido com piadinhas jocosas (e doídas!) sobre isso, falar menos meio que se tornou a minha missão de vida.

Foi aí que o Blog surgiu como uma alternativa ao que eu evitava falar. Ideias, pensamentos sem endereço ou com endereço passaram a ser extravasadas por aqui e isso me fez muito bem, mas ainda não estava colocando “tudo de mim”, ou seja, evitando ir ao que era mais profundo e pessoal. Até o post anterior sobre as tentativas da gravidez. 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Sobre tentar engravidar...


Demorei bastante para falar “abertamente” sobre isso. Não sei bem ao certo porque. Um pouco por medo do “mau olhado”, talvez por medo do julgamento ou ainda, por medo de expor sentimentos indefinidos e incompletos. Fato é que demorei bastante.

Eu nunca sonhei em ser mãe. Nunca gostei de brincar de boneca bebê. Sempre fui de brincar de Barbie e de imaginar como seria a minha vida adulta: independente, cheia de glamour, interessante e cheia de aventuras. Me ver adulta sempre foi uma defesa para o sofrimento da infância e me ver independente parecia ser a chave que abria um mundo onde a felicidade dependia única e exclusivamente de mim mesma!

Bem, assim como nunca sonhei em ser mãe, também nunca havia sonhado em me casar tão cedo mas a vida me apresentou o amor da minha vida e alma gêmea aos 19 anos... Mesmo assim sempre segurava a questão da maternidade e respondia com um “um dia sim” a quem perguntasse sobre o desejo de ter filhos, muito mais para que não me incomodasse do que por efetivamente sentir esse desejo.

Também nunca fui daquelas pessoas que as crianças gostam e que sabem como se portar ao lado de uma. Nunca gostei indiscriminadamente de pimpolhos nem de cachorros. Gostava de uns, mas definitivamente não de todos, definitivamente não daqueles que insistiam em me perseguir em minhas viagens aéreas mais longas justamente às vésperas de reuniões importantes...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

#1LivroPorSemana - Semana 4

O post dessa quarta semana de desafio sai um pouco atrasado, não porque não tenha conseguido cumprir o prazo mas porque ontem foi o primeiro encontro do GLF (Grupo de Leituras Feministas) e acabei não tendo tempo de escrever!

O Segundo Sexo Vol. 1 – Fatos e Mitos da Simone de Beauvoir de fato não é uma leitura fácil. E-book no Ipad e Google a todo momento para pesquisar termos específicos à linguagem acadêmica e científica de Simone, no início, confesso, trouxeram alguns (tá vários!) momentos de arrependimento por tê-lo escolhido logo em uma semana tão tumultuada.

Mas cada página valeu a pena! Mesmo aquelas em que entendi 10% dos termos biológicos e científicos ou as referências a autores que nunca li! A cada pedacinho deste livro eu sentia o poder que emanava das palavras de uma mulher a quem devemos muito. Uma mulher que viveu à frente de seu tempo, com limitações em suas análises é claro, mas com um desejo profundo de conquistar um espaço não apenas para ela mas para todas nós!

A dica dessa semana é muito simples:

6 – não desista! No final valerá a pena e a sensação de dever cumprido não tem preço! Quando bater aquele cansaço faça uma pausa e volte, afinal de contas você escolheu aquele livro por alguma razão. Tente resgatá-la e ainda que o livro seja péssimo (o que não foi o caso!) você irá extrair algo interessante sobre sua visão anterior ao tema.

Essa semana está cheia de compromissos então o livro será curtinho para não fazer muito esforço.

“A Entrega”, de Pierre Weil relata o processo pessoal de entrega do autor, sob a forma de uma comunicação telepática e direta com os anjos. Além de compartilhar com os leitores o conteúdo surpreendente desses encontros, Weil também faz reflexões sobre aspectos inconscientes e involuntários da entrega em atos fisiológicos como a alimentação e a respiração, nas relações amorosas, na cura espiritual e também como caminho para a realização suprema transcendental. Estou curiosa para esse livro após ler Lágrimas de Compaixão que narra os 3 anos de retiro tibetano de Pierre. Um ser humano sem dúvida surpreendente e contagiante e que misteriosamente me faz refletir sobre a transcendência de forma que nenhum outro autor conseguiu fazer até agora!

Até semana que vem #1LivroPorSemana 



Sobre a sororidade...

Na minha vida tive inúmeras “anjas” que vieram em todos os formatos e perfis. Amiga de infância para dividir todos os momentos, brincadeiras e sonhos distantes. Amiga de colégio que manda o recadinho para o garoto cujo nome preenche todas as páginas do seu caderno. Amiga de faculdade que cura porre, faz companhia na balada quando você leva um bolo, mesmo que ela esteja louca para ficar com aquele carinha que ela está paquerando há meses e logo hoje resolveu dar mole. Colega de trabalho que vira amiga e madrinha de casamento. A chefe que me ajudou a desenvolver áreas que eu nem sabia que existiam e a brigar pelo meu espaço em um mundo tão competitivo. Tenho amiga doce e meiga que me mostra que não preciso ser forte o tempo todo para ser independente. As experientes que compartilharam suas labutas para que eu não precise – a não ser que queira – passar pelas mesmas para aprender. Amiga que dá colo, amiga que dá espaço e amiga que embarca na sua loucura quando sua ansiedade está quase te consumindo.  Amigas mais novas que querem aprender com você e te admiram e te motivam a dar sempre o seu melhor mesmo sem saberem. Amiga de balada! Amiga de filminho e brigadeiro. Amiga-irmã e aquela que faz teeeeempooo que você não vê mas que seu coração enche de lágrimas quando vê no facebook que a filha dela nasceu.