sexta-feira, 10 de abril de 2015

Vivendo e aprendendo...



Hoje de manhã recebi um whatsapp de uma amiga que, assim como eu, está na luta com as tentativas da gravidez só que há mais tempo (uns 5 anos). Consegui entender perfeitamente a sensação que ela descrevia ao relatar que seu irmão (mais novo), ainda sem emprego e na faculdade, engravidou a namorada que tomava pílula e que, portanto, ela terá mais um sobrinho (pois sua outra irmã mais nova está grávida do segundo filho!). Em seu desabafo ela se perguntava, como todas nós em algum momento nos perguntamos, “porque”? Por que eu não? E, na parte que mais me tocou: “o que ainda preciso aprender para que Deus me torne merecedora deste filho”?

Esta semana uma das minhas melhores amigas descobriu que está grávida de seu segundo filho. Eu estava desconfiada pelas nossas conversas e resolvi dar uns testes para ela tirar logo a dúvida. Ela não estava exatamente tentando... Quando recebi a mensagem dela meu coração acelerou muito mais do que quando soube do primeiro e era uma felicidade enorme... fiquei emocionada e meu coração não sentiu um pinguinho de tristeza ou de injustiça... fiquei apenas pura e genuinamente feliz! Liguei para o meu marido felizona (acho que ele até estranhou o quanto eu estava tranquila!). Acho que fiquei mais empolgada dessa vez porque na gravidez do primeiro eu estava morando em São Paulo e fiquei muito triste por não ter conseguido acompanhar tão de perto... não estava aqui no dia do parto embora tenha vindo de férias para esperar o danadinho na semana anterior, mas acabou não dando. Ocorre que no mesmo dia em que ela me deu essa notícia eu tinha consulta com a médica que vai fazer o procedimento (videolaparoscopia) para verificar e tratar uma possível endometriose.

Cheguei na consulta no horário com os exames pré operatórios em mãos e sentei no sofá branco da clínica de reprodução humana. Foi a primeira vez que fui sozinha e por alguma razão que na hora não compreendi comecei a ficar apreensiva. Logo me chamaram... Entrei na sala da médica que eu ainda não conhecia e entreguei o encaminhamento do meu médico e os exames pré-operatórios. Ela me fez contar a história toda do início. “Há quanto tempo está tentando?” “Fuma?” “Bebe?” “Alimentação?” “Tem dores?” “Quais exames já fez?” Ok, tudo isso já está na ponta da língua... minha vez de perguntar: “Acha que o meu caso é endometriose mesmo?” “Quais as chances de engravidar após o procedimento?” “Como funciona a operação?” “Como é a recuperação?”. Ela começou a me explicar tudo e o meu olho foi enchendo de lágrimas. Ela me ofereceu um lenço de papel e eu engoli o choro. “E então? Vai querer marcar a vídeo?” “Sim, vamos lá!”. Data marcada, consentimento assinado reconhecendo que estou ciente dos riscos, a única data disponível era 02/07. Onze dias antes do meu aniversário de 31 anos. Assinei todas as guias, me despedi da simpática recepcionista, paguei o flanelinha que me perguntou se eu estava bem e entrei no carro. Joguei os exames no banco de trás e desabei a chorar com a cabeça no volante. O flanelinha bateu no meu vidro e levei um susto tão grande que parei de chorar na hora. Ele me perguntou de novo se estava tudo bem e eu sorri e liguei o carro. No trajeto um pouco anestesiada me fiz exatamente as mesmas perguntas que a minha amiga fez hoje de manhã. Por que eu não? O que ainda preciso aprender? Passei a tarde assim e cheguei a ficar 40 minutos no banheiro chorando... não conseguia conter... não conseguia parar... saí do banheiro pois imaginei que pessoas iriam querer usá-lo em algum momento. Voltei para a minha sala e passei o resto do dia fitando uma tela em branco tentando trabalhar sem nenhum sucesso. Esse sentimento é duplamente difícil de lidar. Em primeiro lugar porque você se sente injustiçada mas principalmente porque você se sente culpada por estar sentindo isso. É difícil falar sobre ele, pois tem medo de ser julgada e de as pessoas não entenderem que você não está triste pela gravidez alheia, ao contrário, mas que não consegue entender o que há de errado com você. Se você mesma se culpa, porque os outros não o fariam?

O dia terminou muito melhor pois além de atender uma cliente linda e amorosa (o que sempre me energiza e me faz bem!) fomos jantar na casa da minha amiga e ao vê-la pude confirmar que não havia nada de errado com o meu sentimento pois ao vê-la e abraça-la a única coisa que meu coração sentiu foi amor e felicidade! A tristeza pela minha não gravidez eu deixei para o dia seguinte...

Mas hoje ao receber o whatsapp que inicia esse texto meu coração apertadinho sentiu a necessidade de compartilhar tudo que tenho aprendido nesse processo e, quem sabe, ajudar mais pessoas a passarem por ele senão com serenidade com um mínimo de sanidade mental.

Meu primeiro aprendizado de vida é de que não, o mundo não é justo! Basta olhar um pouquinho ao nosso redor para rapidamente tirar essa conclusão! Quando eu era criança e adolescente também me perguntei muitas vezes “por que eu”? Por que eu tinha que ter uma família diferente? Por que eu não podia ter uma vida normal como a das minhas amigas? Por que eu precisava ter medo de ir dormir e não saber como seria a nossa noite? Por que eu precisava ter medo do telefone tocar e ser uma notícia desastrosa? Por que eu tinha que ser sempre responsável e não podia falhar nunca ao invés de sair por aí fazendo coisas de crianças? Por que eu tinha que cuidar do meu irmão e muitas vezes da minha mãe e do meu pai? Por que eu tinha que me preocupar em como viveríamos se fossemos expulsos do apartamento em que morávamos? Por que as pessoas achavam que era ok jogar todos os problemas no colo de uma adolescente? Por que? Por que eu?

Não consegui a resposta a essas perguntas mas sei que cada uma dessas experiências moldou um pedacinho importante do que sou hoje e que sim aprendi muito de cada uma delas. Sei também que para cada “injustiça” infligida a mim, centenas de outras injustiças muito piores acometem bilhões de pessoas neste mundo. Mais do que tudo, sei que apesar de todas as coisas ruins que já vivi, as boas foram infinitamente maiores e melhores mas eu só pude reconhece-las e valorizá-las dentro do meu próprio contexto e aprendizado.

O segundo aprendizado é de que, embora ninguém tenha nada a ver com os nossos problemas e não tenha obrigação de nos compreender, tudo se torna mais fácil quando somos francos e sinceros, ao menos com nós mesmos, quanto às nossas necessidades e limitações. A Tayná que engolia seus sentimentos e estava sempre brilhando pela vida, sendo a melhor aluna, a melhor amiga, a melhor filha, por muito pouco não teve êxito em tirar sua própria vida! Estão sendo necessários mais de 15 anos para de fato colocar em prática esse aprendizado e impor os meus limites. Quando disse ao meu marido que íamos jantar lá no dia em que soubemos da gravidez ele me perguntou: “você não vai ficar mal?”. Eu fui não porque eu estivesse reprimindo meus sentimentos mas porque eu verdadeiramente me sinto acolhida ao lado dela. De tantas amigas que acompanharam este processo ela é uma das poucas que jamais me julgou ou me cobrou atitude A ou Z. Era para ela que eu ligava após as consultas e exames e sei que com ela, mesmo ela estando curtindo esse momento, poderei continuar a falar da minha labuta quando necessário. Reafirmar isso foi importante pois me fez sentir confiante da minha evolução. Vou e irei até o meu limite. E é isso o que tenho feito!

Por fim, meu desejo é responder à minha amiga no whatsapp dizendo que o terceiro (e talvez mais importante) aprendizado é o de que o aprendizado só vem à tona quando a maré baixa e as coisas se acalmam. No meio da turbulência só queremos sair dela e só após a tempestade é que poderemos recolher os cacos e juntarmos o que conseguimos salvar e começar a reconstruir. Eu sei que o instinto humano é as pessoas dizerem: “calma, sua hora está chegando! Logo logo vai ser você!”. Muitas pessoas dizem isso porque realmente acreditam nisso, outras dizem apenas porque não sabem o que dizer e se sentem mal por nós.

Eu não vou te dizer isso amiga! Eu não sei se a sua hora está chegando e nem a minha! Não sei se um dia eu vou conceber uma criança e muito menos trazê-la ao mundo. Não sei se serei mãe biológica de alguém... Dá vontade de gritar? Dá! Choro todas as vezes que penso nisso... estou chorando neste momento em que escrevo... mas a verdade é que um objetivo, por mais nobre que seja, não pode nos desviar da principal missão que temos como seres humanos: evoluir!

Portanto, por mais que não saibamos se seremos mães um dia ou não, o que podemos com certeza é evoluir com isso tudo, assim como evoluímos em tantas outras dificuldades anteriores! E talvez seja essa a charada disso tudo... alguns evoluem como pais, outros precisam sentir a dor de não ser para fazê-lo. Alguns evoluem nascendo em famílias convencionais e tendo “tudo”. Outros precisam nascer em uma família diferente para aprenderem...

Então, minha amiga querida, eu queria te dar um abraço bem forte para você sentir que não está sozinha e te dizer que pode chorar, pode gritar, bater a cabeça na parede (não com força para não se machucar!) mas por favor, não deixe que essa experiência seja em vão! Espere a tempestade passar e levante! Recolha os cacos e identifique o aprendizado para a sua evolução!

O mundo pode não ser justo, mas é cheio de oportunidades de crescimento e o amor está em todos os lugares se soubermos olhar...  





Um comentário:

  1. Olá, eu ainda não sou tentante, pretendo começar no início do próximo ano, mas já acompanho muitas mulheres que como você, sofrem com essa espera. Você tem insta? Conhece a @faby_mamaedegemeos ?
    Acompanhei desde o início as tentativas dela, ela fez a cirurgia da endometriose e a dela foi bem severa, ela fez várias FIVS teve aborto, mas hoje tá com os milagrinhos dela! Eu sei que vc não gosta de ouvir que fulana conseguiu e tal, mas é que se vc tiver mesmo endometriose você vai fazer a cirurgia, vai tentar e se Deus quiser vai conseguir igual a Fernanda Machado (atriz) que no primeiro ciclo pós cirurgia conseguiu!
    Desde já estou na torcida, vc vai conseguir, e sua amiga tbm, beeijos. Ge

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