Imagine... Imagine que você é uma
mulher bonita, bem resolvida, inteligente trabalha como Gerente de Marketing em
uma das maiores multinacionais de Bens de Consumo do mundo com um excelente
salário e uma boa perspectiva de crescimento no futuro breve. Agora imagine que
você foi expatriada por 4 anos e ainda por cima durante um ano tirou um
sabático para estudar em uma das mais renomadas escolas de negócios do mundo...
Agora imagine que mesmo com tudo isso você resolve largar tudo e virar...
ATRIZ! Sim você leu direito e essa é a linda e inspiradora história da Suzana
Muniz.
Apesar de todo o padrão executivo/corporativo que se desenhava na vida da Suzana, chegou um momento em que percebeu que não estava feliz. E como quase sempre em processos de auto conhecimento inicialmente achou que o problema estava “fora”. Primeiro pensou que fosse a cidade, afinal a adaptação de uma carioca da gema extremamente solar pode não ser das mais fáceis em uma cidade fria como Curitiba. Começou então a buscar uma opção na mesma empresa só que em outra cidade, mas isso em principio não a empolgava muito. Seria então a empresa o problema? Talvez mudar de projeto, trabalhar com outro tipo de produto poderia ser divertido. Após algumas entrevistas nada a atraía. Foram necessários 2 anos para perceber que o problema estava dentro. Que o que ela não queria mais era a vida que levava como executiva. E mais, o que ela queria era viver daquilo que de fato, durante toda a sua vida lhe despertou paixão: o Teatro!
A história da Suzana com o Teatro se compara aos romances latinos de Garcia Marquez ou Isabelle Allende onde os enamorados demoram a conseguir ficar juntos, mas em várias passagens da vida se encontram e desencontram.
Seu primeiro curso de teatro foi aos 17 anos e como
os grandes amores da adolescência foi arrebatador. Largou o teatro para fazer
faculdade de engenharia química na UFRJ e como muitas vezes acontece com as
histórias de amor, os enamorados se perdem no caminho por razões alheias ao
coração. Para atender expectativas dos pais, da sociedade, financeiras, de
insegurança pessoal... por alguma razão se perdem mas não se esquecem.
Já formada, foi trabalhar em marketing em Curitiba e lá
fez um curso na antiga ACT (Atelier de Criação Teatral), mas foi promovida, ficou
atolada de trabalho e mais uma vez deu um temporário adeus ao seu grande amor! Já
expatriada, no México, voltou ao teatro e participou de uma peça infantil com
um grupo amador. “Me lembro de estar no teatro assistindo ao ensaio, numa sexta
feira, e de pensar ‘nossa, não existe nenhum outro lugar no mundo em que eu
gostaria de estar mais do que aqui’”.
A decisão de se entregar ao seu grande amor veio
quando, já de volta ao Brasil e após os 2 anos de insatisfação e busca de
autoconhecimento resolveu tirar 3 semanas de férias e fazer teatro em SP, “só
pra testar”, como se houvesse algo a ser testado. Em
todo caso, satisfazendo os desejos pragmáticos dos racionais (o lado engenheiro
está ali, lembra?) voltou com a certeza de que precisava pedir demissão. Compreender no fundo de sua alma que seria
eternamente infeliz se não mudasse de vida e fosse fazer teatro trouxe a
principio muito medo e esse para ela foi o momento mais difícil nesta
trajetória. Engana-se quem pensa que a clareza vem acompanhada subitamente da
coragem. E, como disse madiba Nelson Mandela: “coragem não é a ausência de
medo, mas o triunfo sobre ele!”
Mas calma, como em todo bom romance, logo quando o
leitor acredita que os mocinhos ficarão juntos.... na volta das férias Suzana
foi promovida e acabou ficando mais um ano na empresa. Só que dessa vez foi diferente: ela já sabia o que
queria, e usou esse ano para amadurecer a ideia de sua nova vida e,
principalmente, se capitalizando e preparando a demissão. Como boa engenheira,
fez uma planilha de custos: é preciso saber quanto custa a nossa vida para
fazer algo assim. Informou-se sobre os cursos em SP, fez os testes e passou. E
no dia seguinte dos resultados, pediu a tão esperada demissão. Poucos dias
antes do meu aniversário de 36 anos estava entregando meu computador e pegando
a estrada para São Paulo.
Como era de se esperar muita gente a chamou de corajosa
enquanto outros a olhavam como se estivesse surtando. “Não me sentia nem
corajosa nem louca. Na verdade a única coisa que aconteceu foi que eu segui meu
desejo. Aquele que a gente em geral reprime em detrimento de outras coisas:
segurança, expectativas da sociedade, desejo dos pais, etc.”
Hoje, 3 anos depois, está trabalhando com produção
cultural e estou em cartaz na cia de teatro Os Satyros. E uma das peças em que
atuou está atualmente indicada para prêmio Shell por melhor texto. Além disso,
tem sido constantemente alvo de excelentes críticas, se destacando de forma
brilhante abraçada ao seu grande amor!
Quando lhe pergunto o que a fez perseverar, me
confirma: “Olhar em volta: tanta gente vive de arte nesse país, por que eu
também não poderia fazer o mesmo? Recentemente li um livro do Bukowsky que
resume bem essa questão: ‘As pessoas que resolviam as coisas em geral tinham
muita persistência e um pouco de sorte. Se a gente persistisse o bastante, a
sorte em geral chegava. Mas a maioria das pessoas não podia esperar a sorte,
por isso desistia’.”
Ela reconhece como um grande aprendizado que as
coisas acontecem a seu tempo e que tudo o que desejamos tem um preço, mas que
esse preço é muito válido quando fazemos o que amamos. Talvez tenhamos que
repensar qual o preço que estamos dispostos a pagar pelos nossos sonhos. Essa
proporcionalidade é inevitável: quanto maior o preço que estiver disposto a
pagar, maior a importância do sonho e do desejo para você.
O que me encanta na trajetória da Suzana é a
serenidade com que tomou sua decisão embebida de amor, mas também de muita
razão e pragmatismo. Ir para uma área profissional onde as pessoas em geral
começam muito novas e ter o destaque que ela está tendo só confirma que com uma
boa dose de coragem, um bom planejamento e a disponibilidade para se entregar
de corpo e alma são receita praticamente infalível de sucesso. Talvez o
problema esteja na definição do sucesso para maioria das pessoas.
Não sei se a Suzana está ganhando tão bem quanto
ganhava quando era gerente de marketing. Talvez sim, talvez não. O que sei é
que está vivendo bem, pagando suas contas e principalmente com um sorriso largo
e o olhar ainda mais brilhante! Se isso não é sucesso...
Feliz em saber que você está feliz,que encontrou seu caminho,parabéns! Beijos fr Maria Selva
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