Que mulher nunca ouviu de alguma
tia, mãe, vó ou amiga: “querida, para um relacionamento dar certo, o homem
precisa gostar mais da mulher do que a mulher do homem...”
A quantidade de conceitos
destrutivos e machistas concebidos nesse inócuo conselho sempre me incomodou,
principalmente pelo fato de eu ter escolhido estar ao lado de alguém que amo de
uma maneira tão intensa e profunda que sequer consigo imaginar o que viria a ser
um amor maior do que esse.
Parte-se do pressuposto de que
mulheres amam mais e, portanto, para equilibrar essa equação é preciso desequilibrar
a quantidade de amor distribuída no relacionamento.
Essa mensagem é tão equivocada
para as mulheres quanto para os homens. A mensagem que passa à mulher é de que
ela nasceu para ser cuidada. Ao homem, desvaloriza a mulher que o “ame mais”,
pois esse não é o fluxo correto das coisas.
Existem até grupos de apoio para mulheres
que amam demais. Entendo a mensagem e sentido dos grupos, mas discordo da
semântica. Mulheres (ou homens!) afundadas em relacionamentos destrutivos,
muitas vezes em ciclos de co-dependência não amam. E digo isso por uma simples
razão: não se pode dar a alguém o que não temos em primeiro lugar por nós
mesmos.
Pessoas que se enquadram no perfil
“amo demais, faço todos os sacrifícios, fico sem dormir, dou minha própria
comida pelo outro bla bla bla e não recebo nada em troca a não ser desprezo e
sofrimento” não amam, elas são viciadas. Sim, viciadas no sofrimento, no
sentimento de autocomiseração, em serem vistas como vitimas da vida e da injustiça
divina e, principalmente, na justificativa perfeita que essa situação lhes dá
para que deixem de trabalhar tooooodooos os outros problemas de sua vida e de
sua alma!
Atenção, não estamos aqui
culpando a pessoa pelo seu vicio. Assim como qualquer dependência é preciso um
esforço hercúleo para se desvincular da situação e vencer o vício. A ideia é
apenas esclarecer e diferenciar esses comportamentos de adicto daquilo que é um
relacionamento verdadeiramente baseado no amor.
O amor pelo outro passa
necessariamente pelo amor próprio. Ele é sereno e sem cobranças. Ele não espera
nada em troca. Ele simplesmente existe. Quando você ama de verdade alguém você
quer que a pessoa seja feliz e isso pode significar que ela não será feliz ao
seu lado, por exemplo. Mas também não
quer dizer que pela felicidade do outro você irá se anular e tornar a sua vida
miserável, pois o amor próprio entra para resgatá-la. Você irá auxiliar até
onde aquilo não te destrua com a serenidade e confiança de que em primeiro
lugar você não pode ajudar ou amar ninguém se não estiver se amando se
cuidando. Primeiro temos que colocar a mascara de oxigênio em nós mesmos para
então, vivos e respirando, podermos auxiliar os outros. O amor verdadeiro
traz paz e não sofrimento! Ainda que aparentemente possa haver uma abnegação
física o sentimento relacionado será de paz. Maior exemplo disso são as pessoas
que renunciam aos bens materiais ou a uma vida de conforto material para ajudar
ao próximo. Ninguém imagina a Madre Tereza cobrando algo em troca de seus
leprosos ou rasgando as vestes para dizer que ela havia feito isso isso isso e
aquilo e eles nem para retribuírem fazendo aquilo outro.
O amor próprio é algo tão
maravilhoso quanto difícil de construir na sociedade atual. Especialmente para
mulheres, como demonstra a frase que abre esse post. Nascemos e crescemos em
uma sociedade onde somos o tempo inteiro julgadas e culpadas. Pela roupa, pelo
corpo, pelas atitudes mais ou menos femininas, pelas escolhas. Uma sociedade
onde, como diria Gregorio Duvivier em uma de suas divertidíssimas colunas na
Folha, o homem é corno ou filho da puta e a culpa é de qualquer forma da
mulher.
Amor próprio hoje em dia é
confundido constantemente com egoísmo, mas isso é matéria para outro post...
A reflexão de hoje sobre a frase
que abre o post é apenas sugerir que você, homem ou mulher reflita sobre o como
tem tratado a si mesmo para então analisar como se tem deixado tratar dentro do
relacionamento!
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