quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Ouro de Tolo

Quem nunca sentiu um enorme vazio mesmo aparentemente tendo "tudo"? Quantos de nós sonhamos por anos em escalar a complicada montanha da hierarquia corporativa e ao chegarmos lá nos perguntamos: é só isso?!! com um grande ar de decepção? Quantos, neste momento entenderam exatamente o sentido por trás do clichê de autoajuda tão piegas quanto verdadeiro: a felicidade está dentro de nós independentemente do ambiente externo, do dinheiro, da fama, do poder.

ESTAR feliz é um estado de espírito e o desafio maior não é conquistar as coisas e as pessoas, mas a nós mesmos. E como diria aquela música trollagem da nossa infância: "parece fácil, mas é difícil, um belo dia você vai ter que aprender" se não quiser passar a vida correndo atrás do vento.

Essa letra do Raul já me inspira no título. Ouro de tolo... que somos todos, buscando fora o que já temos dentro... passando para outra pessoa, outra coisa, outro cargo, outra vida a responsabilidade pela nossa felicidade. E nos sentindo culpados quando alcançamos tudo que achávamos que a traria até nós, mas percebemos que a tal da felicidade não se apresentou.

Tolos que não se dão conta de que a tristeza e a dor são apenas o outro lado da felicidade. A sombra que permite que a luz brilhe.

Ruim mesmo é o vazio... o nada... a ausência de algo que não sabemos o que é... e que nos faz correr atrás do vento numa vã tentativa de alcançar o que nos acompanhou o tempo todo...

Toca Raul!


Ouro de Tolo

Raul Seixas

Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso
Na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar
Um Corcel 73
Eu devia estar alegre
E satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome
Por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa
Ah!
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa
Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto "E daí?"
Eu tenho uma porção
De coisas grandes pra conquistar
E eu não posso ficar aí parado
Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Pra ir com a família
No Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos
Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco
É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal
E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social
Eu é que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador
Ah!
Eu é que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador

https://www.youtube.com/watch?v=-pbC1QNXTEI

Nenhum comentário:

Postar um comentário