Excepcionalmente
a coluna de hoje será sobre alguém que não tive a possibilidade de conhecer,
mas cuja figura me acompanhou em grande parte da minha existência através de
filmes que marcaram a minha vida de maneiras muito diferentes e igualmente
profundas.
Ao tomar conhecimento da
morte de Robin Williams na segunda-feira (11), na Califórnia, aos 63 anos por
um suposto suicídio meu coração entristeceu. Não apenas pelo ser humano Robin,
que obviamente não deve ser confundido com as maravilhosas personagens
interpretadas, mas também por tantos outros seres humanos tão pulsantes,
talentosos e “privilegiados” quanto ele que infelizmente não conseguem vencer a
batalha contra a depressão e o abuso de substâncias químicas que muitas vezes
existe apenas para aliviar a primeira.
Um dos artistas mais queridos
e engraçados de Hollywood, Robin Williams sofria de depressão profunda e lutava
contra a dependência de álcool e cocaína há anos. Chegou a ficar 20 anos sóbrio
quando, após uma recaída, se internou voluntariamente em uma clínica em 2006.
Robin Williams desfrutou do
sucesso que milhões almejam e pouquíssimos alcançam. Carimbou seu nome como um
dos mais importantes do cinema internacional e seu rosto jamais será esquecido
pelas incríveis atuações que inspiraram a tantos. Ao mesmo tempo, teve uma
turbulenta vida pessoal, lutando contra problemas de saúde, alcoolismo e
passando por dois divórcios.
A reflexão a que me traz mais uma
vez essa tragédia é como a felicidade realmente não está atrelada à fama,
sucesso e dinheiro, ao contrário, muitas vezes esses fatores podem reverberar
mais ainda inquietações profundas da existência humana.
Me pego pensando em como muitas
vezes olhamos para a vida do outro com inveja ou lamentação pela nossa própria “medíocre”
existência sem saber quais fantasmas e sombras assombram o próximo.
Ao mesmo tempo, reflito sobre como
sombras fazem parte da dicotomia que é a vida! Como na nossa inconsistência
e incoerência, passamos por essa vida com uma missão de sofrimento intenso e
profundo e ao mesmo tempo podemos ser instrumentos de alegria e felicidade para
aqueles ao nosso redor.
Apesar
de seus fantasmas e de sua luta, Robin Williams viveu uma vida repleta de
momentos memoráveis antes de sua morte precoce (aos 63 anos de idade).
Williams
estudou no Redwood High School, na Califórnia, onde, durante seu último ano,
foi eleito tanto "o aluno mais divertido e menos propenso a ter
sucesso." Mais tarde, Williams viria a receber cinco Grammys, dois Emmys e
um Oscar.
Trabalhou
como mímico de rua na frente do Museu de Arte Moderna de Nova York e foi aquele
tipo de artista que poderia levantar o ânimo de qualquer um.
Como
muitos de nós, pode ter decepcionado uns e outros e a si mesmo. Talvez não
tenha sido o marido ideal ou o pai dos sonhos para alguns dos seus filhos, mas
sempre se lembrou de olhar para trás, para o passado de onde veio e, dentro de
suas limitações tentou dar sua contribuição nesta terra através do dom que lhe
foi concedido: fazer os outros rirem!
Não
somos todos assim? Repletos de imperfeições, contrassensos e incoerências.
Muitas vezes um pai ausente é o cientista que vai descobrir a cura do câncer,
ou o líder político que o país está precisando. Uma mãe dedicada pode ser
também uma esposa displicente. Um fracasso na escola por vezes se torna um gênio
próspero financeiramente ajudando a uma comunidade ou a um país inteiro através
de seus feitos. E assim vai...
Robin era também
um amigo querido e preocupado. Certa vez, vestiu um uniforme de médico e
surpreendeu o amigo Christopher Reeve após o acidente que acabou com a carreira
do ator. Em
seu livro, Still Me, Reeve escreveu sobre a visita de Williams ao
hospital:
“Então, em um momento
especialmente sombrio, a porta se abriu e apareceu um sujeito atarracado com um
chapéu azul, um vestido amarelo cirúrgica e óculos, falando com um sotaque
russo. Ele anunciou que era meu proctologista e que precisava me examinar
imediatamente... era Robin Williams... Pela primeira vez desde o acidente, eu
ri. Meu velho amigo me ajudou a saber que de alguma forma eu iria ficar bem.”
Robin Williams certamente foi um
sucesso!
Espero que tenha encontrado a paz
que lhe faltava com a certeza de que sua passagem nesta vida, embora sofrida,
trouxe momentos de muita inspiração para todos que acompanharam seu trabalho e
que estiveram ao seu lado.
Cada vez mais me convenço de que precisamos
aceitar a nossa sombra para encontrar a luz, ainda que talvez não a encontremos
nesse plano!
E que nós todos possamos tirar
como lição nesse momento um trecho do filme que o imortalizou como o “Capitão”:
“Quero viver liberadamente
Eu quero viver profundamente
E sugar toda essência da vida
Para acabar com tudo que não fosse
vida
Para que quando minha morte
chegasse
Eu não descobri que não vivi.”
(Sociedade dos Poetas
Mortos).
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