terça-feira, 12 de agosto de 2014

Gente que inspira - Robin Williams



Excepcionalmente a coluna de hoje será sobre alguém que não tive a possibilidade de conhecer, mas cuja figura me acompanhou em grande parte da minha existência através de filmes que marcaram a minha vida de maneiras muito diferentes e igualmente profundas.

Ao tomar conhecimento da morte de Robin Williams na segunda-feira (11), na Califórnia, aos 63 anos por um suposto suicídio meu coração entristeceu. Não apenas pelo ser humano Robin, que obviamente não deve ser confundido com as maravilhosas personagens interpretadas, mas também por tantos outros seres humanos tão pulsantes, talentosos e “privilegiados” quanto ele que infelizmente não conseguem vencer a batalha contra a depressão e o abuso de substâncias químicas que muitas vezes existe apenas para aliviar a primeira.

Um dos artistas mais queridos e engraçados de Hollywood, Robin Williams sofria de depressão profunda e lutava contra a dependência de álcool e cocaína há anos. Chegou a ficar 20 anos sóbrio quando, após uma recaída, se internou voluntariamente em uma clínica em 2006.

Robin Williams desfrutou do sucesso que milhões almejam e pouquíssimos alcançam. Carimbou seu nome como um dos mais importantes do cinema internacional e seu rosto jamais será esquecido pelas incríveis atuações que inspiraram a tantos. Ao mesmo tempo, teve uma turbulenta vida pessoal, lutando contra problemas de saúde, alcoolismo e passando por dois divórcios.

A reflexão a que me traz mais uma vez essa tragédia é como a felicidade realmente não está atrelada à fama, sucesso e dinheiro, ao contrário, muitas vezes esses fatores podem reverberar mais ainda inquietações profundas da existência humana.  
Me pego pensando em como muitas vezes olhamos para a vida do outro com inveja ou lamentação pela nossa própria “medíocre” existência sem saber quais fantasmas e sombras assombram o próximo.

Ao mesmo tempo, reflito sobre como sombras fazem parte da dicotomia que é a vida! Como na nossa inconsistência e incoerência, passamos por essa vida com uma missão de sofrimento intenso e profundo e ao mesmo tempo podemos ser instrumentos de alegria e felicidade para aqueles ao nosso redor.

Apesar de seus fantasmas e de sua luta, Robin Williams viveu uma vida repleta de momentos memoráveis antes de sua morte precoce (aos 63 anos de idade).

Williams estudou no Redwood High School, na Califórnia, onde, durante seu último ano, foi eleito tanto "o aluno mais divertido e menos propenso a ter sucesso." Mais tarde, Williams viria a receber cinco Grammys, dois Emmys e um Oscar.

Trabalhou como mímico de rua na frente do Museu de Arte Moderna de Nova York e foi aquele tipo de artista que poderia levantar o ânimo de qualquer um.

Como muitos de nós, pode ter decepcionado uns e outros e a si mesmo. Talvez não tenha sido o marido ideal ou o pai dos sonhos para alguns dos seus filhos, mas sempre se lembrou de olhar para trás, para o passado de onde veio e, dentro de suas limitações tentou dar sua contribuição nesta terra através do dom que lhe foi concedido: fazer os outros rirem!

Não somos todos assim? Repletos de imperfeições, contrassensos e incoerências. Muitas vezes um pai ausente é o cientista que vai descobrir a cura do câncer, ou o líder político que o país está precisando. Uma mãe dedicada pode ser também uma esposa displicente. Um fracasso na escola por vezes se torna um gênio próspero financeiramente ajudando a uma comunidade ou a um país inteiro através de seus feitos. E assim vai...

Robin era também um amigo querido e preocupado. Certa vez, vestiu um uniforme de médico e surpreendeu o amigo Christopher Reeve após o acidente que acabou com a carreira do ator. Em seu livro, Still Me, Reeve escreveu sobre a visita de Williams ao hospital:

“Então, em um momento especialmente sombrio, a porta se abriu e apareceu um sujeito atarracado com um chapéu azul, um vestido amarelo cirúrgica e óculos, falando com um sotaque russo. Ele anunciou que era meu proctologista e que precisava me examinar imediatamente... era Robin Williams... Pela primeira vez desde o acidente, eu ri. Meu velho amigo me ajudou a saber que de alguma forma eu iria ficar bem.”

Robin Williams certamente foi um sucesso!  

Espero que tenha encontrado a paz que lhe faltava com a certeza de que sua passagem nesta vida, embora sofrida, trouxe momentos de muita inspiração para todos que acompanharam seu trabalho e que estiveram ao seu lado.

Cada vez mais me convenço de que precisamos aceitar a nossa sombra para encontrar a luz, ainda que talvez não a encontremos nesse plano!

E que nós todos possamos tirar como lição nesse momento um trecho do filme que o imortalizou como o “Capitão”:

“Quero viver liberadamente 
Eu quero viver profundamente 
E sugar toda essência da vida 
Para acabar com tudo que não fosse vida 
Para que quando minha morte chegasse 
Eu não descobri que não vivi.

(Sociedade dos Poetas Mortos). 

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