Projetos
como esse à primeira vista parecem positivos mas desconsideram um enorme prejuízo ao
mercado de trabalho e à mulher profissional, reforçando um machismo histórico
que faz com que mulheres do mundo todo sejam pior remuneradas, preteridas em promoções e em contratações
quando em idade fértil ou com filhos pequenos.
Como ter uma sociedade igualitária quando a mulher terá que
sair do mercado por 1 ano se optar ser mãe ao passo que o homem se afasta por
meros 30 dias? Como exigir que o homem participe mais na criação de seus filhos
quando a própria lei vem dizer que ele é doze vezes menos necessário do que a
mãe?
A tendência, caso esse projeto seja aprovado é de duas uma:
cada vez menos mulheres que desejem se manter no mercado de trabalho se
permitirão ter filhos ou cada vez mais talentos femininos optarão pela
maternidade com a certeza de que voltar ao mercado será algo se não impossível
extremamente difícil (como já acontece em muitos países europeus que promovem
essas "benesses").
A pior discriminação que as mulheres enfrentam no mercado de
trabalho se relaciona à maternidade.
Um estudo de Stanford oferecia aos participantes dois currículos de
candidatos a um posto de consultoria de gestão. Os dois eram de mulheres e
idênticos, exceto que um mencionava que a pessoa em questão era parte de uma
associação de pais e professores. Segundo a classificação dos participantes do
teste, a mulher com filhos tinha chance de contratação 79% menor e ofertas
salariais US$ 11 mil mais baixas.
Outro estudo constatou que mulheres altamente motivadas eram vistas
pelos empregadores como tão dedicadas ao trabalho que provavelmente eram más
mães e isso resultava em aumentos salariais menores e em menos promoções.
Defendo as licenças em tempos iguais e sucessivos
(6 meses para mãe e 6 meses para o pai por exemplo) justamente para equilibrar
essa equação que já anda para lá de desajustada para todos os envolvidos (mães,
pais, crianças e empregadores).
Isso jamais será possível com a legislação
"forçando" mulheres a escolher entre suas carreiras e a maternidade.
O embate
Sheryl Sandberg-Marissa Mayer “executiva mega blaster sucedida que também quer
ser mãe” vs. Anne-Marie Slaughter “era super poderosa largou tudo para
ficar com os filhos pois não dá para “ter tudo” tem voltado cada vez mais à
tona com mulheres de ambos os times se agredindo e se julgando com frases como:
“a carreira é menos importante que os filhos” “de que adianta ter dinheiro e
não ver seus filhos crescerem” ou ainda (no time das que optaram por ficar em
casa), “prefiro ter uma vida simples mas não correr o risco de traumatizar meus
filhos” em resposta às críticas das “ambiciosas” que acusam as que abdicam da
carreira de “não terem sonhos próprios” ou “individualidade” e assim por diante
(leia mais Aqui e Aqui)
Para mim há razão em
ambos os argumentos e eles não deveriam ser opostos. Sheryl Sandberg acerta
quando diz que devemos procurar parceiros capazes de apoiar nossas carreiras,
dividir as tarefas caseiras e motivar-nos a manter nossas ambições. Assim, como
acredito que acerta quando alivia a culpa das mães que pedem ou pagam ajuda.
Mas também acerta Anne-Marie ao ressaltar que o que precisa realmente mudar, é
a cultura das empresas: a ideia de que presença física e jornadas longas, resultem automaticamente em competência no trabalho, o quê
já está mais do que provado não é verdade.
É claro que, existem
inúmeros outros fatores nesta equação que não abordam as classes onde trabalhar
ou não sequer é um questionamento e sim uma necessidade básica de sobrevivência
e é obvio que nenhuma das duas esgota os problemas da realidade de mercado
feminina que engloba também as classes mais baixas onde a remuneração passa
longe de ser justa para as mulheres. Acredito, porém que ter mais mulheres na
liderança, transformar a visão das empresas como pretende Anne-Marie e trazer
os homens para a equação como sugere Sheryl seja o caminho para trabalhar o
problema em forma de cascata.
“Um mundo de fato igualitário seria aquele em que as mulheres
comandassem metade dos países e das empresas e os homens dirigissem metade dos
lares.” (Sheryl Sandberg)
Poderá gostar de: Sobre o dia em que saí do armário Sobre escolhas e ser mulher Sobre mulheres contra o feminismo Sororidade E o cordeiro vai para o abate Sobre o casamento e a maternidade Os números do machismo #SomosTodasKarinnyOliveira Porque eu preciso do feminismo Quando se é mãe Sobre a Emma Watson e o machismo Humanização do Feminismo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário