“Nossa que coragem!” é o que mais
ouço sobre o novo rumo que estou dando à minha vida. Alguns com admiração, mas
muitos enxergam neste meu desvio de rota algo quase insano (sim, coragem tem
sido eufemismo de loucura)! Coragem, pensam, abandonar uma carreira que me
proporcionava uma renda fixa atraente e uma suposta estabilidade pela incerteza
de empreender. Coragem de trocar o “certo pelo incerto” e arriscar perder um
padrão conquistado às custas de muito suor e lágrimas.
Pensando sobre isso no avião para
São Paulo os sentimentos me transportaram a quando saí de Curitiba para encarar
um desafio profissional e senti exatamente o mesmo tipo de espanto! Olhares que
me questionavam por estar “abandonando meu marido” e trocando “um emprego
seguro” no qual eu havia acabado de ser promovida por “uma aventura
profissional que poderia custar-me o casamento”. Lembrei o quanto me chamaram
de “corajosa” por sair do Centro Cívico para uma velha fábrica em Mauá para
onde por um bom tempo fui de trem. Lembrei de como a qualquer mínima reclamação
ouvia: “Ué, não era isso que você queria? Agora aguenta!”
Cheguei então à fila do táxi de
Congonhas, me dirigi à do ônibus, olhei por trás do meu ombro e me vi ali: de
salto alto, terninho, fuçando no Blackberry e esperando... e sorri! Sorri ao me
dar conta de que tudo que parecia insano tinha me rendido uma trajetória de
sucesso. Sorri pois os mesmos que me chamaram de louca meses mais tarde “não
acreditavam na sorte que tive” ao ser promovida a head da área jurídica em menos de 1 ano. Sorri com a certeza de que assim como lá
atrás meu esforço, dedicação e confiança resultaram em crescimento e
oportunidades, não tenho razões para acreditar que agora seria diferente!
Falo sempre para as coachees quando estão inseguras em seus
planos após algum “iluminado” aparecer cheio de argumentos para “trazê-las à
realidade e tirá-las do romantismo que não paga contas”, que essa retórica tem
mais a ver com as frustrações e medos do mensageiro do que com a capacidade
delas de realizarem seus sonhos mas que medo e insegurança também fazem parte do
processo! Comigo não é diferente! Houve e há momentos em que sinto um frio na
barriga que me faz passar fisicamente mal. Há outros em que me pergunto se não
deveria ter ficado no emprego seguro no qual havia sido recém promovida. Tive e
ainda terei momentos difíceis: trens lotados, apertos financeiros, nãos,
olhares de reprovação e quem aposte no meu fracasso. Mas prefiro focar no
aprendizado, experiência, desafios e reconhecimento! Apegar-me aos que torcem e
vibram comigo a cada conquista e reforçam sua confiança em mim quando a minha
própria está abalada. Mais do que tudo agarro-me a mim mesma!
O autoconhecimento nos traz uma
certeza serena não apenas do que queremos mas das ferramentas que temos à nossa
disposição, daquelas que podem nos atrapalhar e também como contorna-las! Não
se trata de coragem mas de confiança e planejamento! Não é um tiro no escuro
apostar em nós mesmas! Não é um risco acreditar que somos capazes após nos
olharmos de verdade e conhecermos e manejarmos nossas habilidades e defeitos a
nosso favor!
Ainda não “cheguei lá” para
contar uma história de sucesso mas quem já teve que lidar com problemas de
gente grande desde os 4 anos, mudou de país 2 vezes contra sua vontade, andou
10km para economizar e comer uma coxinha e nunca sabia se aquele semestre seria
o último que poderia pagar, não pode se assustar com qualquer coisa! Posso me
estrepar, ter que recomeçar uma, duas, dez vezes, mas serei eu e apenas eu a
ditar os rumos da minha vida e do meu sucesso! E para as inseguranças e
frustrações dos outros recomendo: beijo na boca (ou no ombro!), brigadeiro,
cafuné e muito autoconhecimento!
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