Eu sou
chata! Confesso! Em alguns momentos poderia se dizer que eu sou chata para
caraleo mesmo... Tipo MUITO CHATA! Daquelas que insiste na opinião quando
evidentemente todo mundo na mesa quer mudar de assunto, ou que encrenca com o
detalhe errado que você deu numa conversa de bar ao contar uma história de
balada de 13 anos atrás. "Não estava de blusa branca não! Lembro muito bem
que naquele dia sai com a blusa rosa que eu ganhei de presente de aniversário!"
E a pessoa me olhando de canto de olho tipo "ta ta ta". Sou
daquelas que contou para os colegas no pré que Papai Noel não existia e que não
se conformava com crianças de 8 anos AINDA NÃO SABEREM DE ONDE VEM OS
BEBÊS!
Já
entrei (e às vezes ainda entro) em muita discussão desnecessária... Se acho que
tenho razão (e como toda chata isso é algo que ocorre digamos com uma certa frequência)
não arredo o pé até que o incauto concorde comigo... E ai dele se o fizer
apenas para encerrar a discussão! Tal atitude pode gerar mais algumas horas de
discussão até que eu me convença de que ele realmente entendeu, absorveu e
concordou com a minha argumentação... Por muitos anos meu lema foi: eu não acho
que tenho sempre razão, apenas é raro alguém conseguir me convencer com
argumentos melhores do que os meus (você pode ver que sou modesta
também!).
Apesar
dessa chatice toda eu tenho muitos amigos e pessoas que me amam de alguma
forma. As pessoas estão na minha vida há bastante tempo, mesmo as que pegaram o
auge da chatice em sua forma bruta (também conhecida como adolescência!) e isso
pode parecer uma incógnita mas acredito que seja pois apesar de ser chata sou também uma amiga leal e dedicada!
Não meço esforços para ajudar quem precisa de mim e tento ser muito
compreensiva quando alguém que eu amo está em dificuldades ou sofrendo. Pode
ser também por ser engraçada mas acho que minha ironia e senso de humor não
compensariam sozinhos toda essa chatice... Já pensei que pode ser o fato de eu
ser dedicada e alguém que meus amigos e amigas de certa forma admiram por
tantas outras qualidades.
Parei
para pensar em tudo isso enquanto mais uma vez cedia à tentação de ler
comentários em posts sobre o tema polêmico da vez. A cada comentário chato,
intolerante, prepotente que eu lia eu me perguntava: “quem são essas pessoas???
De que buraco elas saíram??? Pelo amor fechem as compotas do inferno!”
Até
que: BUM! Me ocorreu: essas pessoas podem ser exatamente como eu! Chatas em
suas opiniões e insistentes com seus argumentos (claro que não estou discutindo
o mérito e a qualidade da argumentação pois jamais entrei em discussão com a
retórica do “cala boca você é burro” embora já a tenha pensado muuuuiiitaaas
vezes!). O fato é que elas devem ser amigas de alguém, amadas por alguém e ter
qualidades que não vêm à tona em comentários na internet. Meu marido algumas
vezes me diz: “cara se eu não te conhecesse ia te achar muito boçal por esse
comentário”. Ou seja: toda a irritação com esse tipo de comentário e pessoas
vem do fato de, muitas vezes, não as conhecermos. Não sabermos que, além de
chatas elas também podem ser amorosas, dedicadas, leais, engraçadas, sensíveis
e uma série de outras qualidades que não se manifestam naquele momento!
Do meu
lado, o exercício para diminuir a chatice é constante e hoje já escolho muito
melhor as minhas “brigas”, além de ter aprendido a ser bem mais tolerante à
opinião alheia, o que devo dizer só veio a enriquecer e acrescentar. Mas, o
interessante aqui e a proposta desse post é uma tentativa de pensar nessas
pessoas (da internet e da vida) de uma nova forma. Olhar para mim e para as
minhas chatices me ajudou a olhar os comentários e os argumentos de outra
forma. Me irrito menos, me solidarizo mais!
Óbvio que
não vou fazer amizade com a comunidade virtual toda e claro que dentre todas
essas pessoas muitas eu iria achar um porre na vida real mesmo e jamais teria
amizade com elas, mas o olhar por outro ângulo pode sim tornar as coisas muito
mais fáceis em qualquer situação da vida!
Quanto
mais penso sobre isso mais percebo a quantidade de defeitos que eu mesma tento
constantemente trabalhar e como isso não é tarefa fácil! Por que exigir do
outro uma sabedoria que eu mesma muitas vezes não tenho? Sendo o Facebook a grande mesa de boteco atual,
será que as pessoas seriam tão grosseiras ao vivo? Será que o que se vê na rede
não é apenas uma chatice exacerbada pelo manto do “anonimato”? Será que não
seríamos na vida real com essas pessoas como meus amigos muitas vezes foram
comigo em mesas de bar reais? (tá tá tá)
A
provocação desse post então é: pense antes de escrever (claro!) mas também
antes de julgar quem dá opiniões divergentes e acaba sendo chato nelas. Imagine
que essa pessoa tem uma vida, uma família, amigos que gostam dela e talvez
aquela frase esteja apenas fora de contexto. Tente humanizar o comentário e o
ser humano que o fez. Claro que muitas vezes é difícil já que parte do problema
é o analfabetismo funcional, mas já de tentar é possível perceber a irritação
indo embora... ou ao menos suavizando.
E
logicamente não estou me referindo aqui a comentários racistas, homofóbicos e
preconceituosos latu sensu que para mim tem tolerância zero, mas àqueles que podem
ser irritantes e vazios apenas por contrariarem tudo que acreditamos ser
importante nesta vida e a pessoa simplesmente reduz a: “mimimi feminista”
(qualquer semelhança é mera coincidência)!
Por
outro lado, enquanto aqui escrevo penso: “será que todas as pessoas se irritam
como eu ao ler bobagens nos comentários ou só as chatas?” Bem, se a carapuça
lhe servir: bem-vindo ao time!
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